Devaneios... Nada mais...

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Insónia ( VII )

(continuação)

Em dez minutos estou em casa dela… Mora na Foz… Ainda bem que é noite, senão o transito ia ser impossível…
- Olá miúda! , digo sorrindo, não se passa nada de especial pois não?
- Olá… Não… não é nada demais… Falamos no café…
Durante, a interminável viagem de dez minutos até ao Lais de Guia (mais uma bar à beira praia…), tento quebrar aquele ambiente algo pesado falando da minha viagem para a Áustria… Claro que não menciono a Sofia… Sinto-me algo mal com isso… Mas não estou a mentir em nada… Apenas omito a verdade… Claro que acho que estamos interessados um no outro, mas não temos nenhum compromisso… Além disso, a Sofia é só uma amiga bem recente…
- Ah… Vais amanhã apresentar um trabalho para a Áustria… Muito bem… -diz com um ar algo desiludido…
Não percebo… Devia ter feliz com o meu sucesso…
Enfim chegamos ao bar… Como de costume temos de esperar uns dez minutos por uma mesa. Mais dez minutos de conversa de chacha que não leva a lado nenhum… Os alunos dela que começam a andar com a cabeça em água por causa dos exames, a minha possibilidade de promoção…
Avisto uma mesa no canto… Perfeito… Mesmo o que era preciso para conversar intimamente…
Lá vem o empregado… Ela como sempre, pede a sua água tónica… Já começo a saber muitos dos hábitos… Também é normal ao fim de seis meses… Pensando bem não sei se é normal… Eu lá peço um Ginger Ale e dou tempo para ela começar a falar.
- Então amanha vais passear… Isso muda totalmente as circunstâncias… Não te queria deixar a pensar no que vou dizer com um trabalho tão importante para fazeres… - diz-me sadicamente…
Circunstâncias… Quais circunstâncias? E não dizer nada também não me vai deixar a matutar? Só me deixar maluco era se dissesse que queria assumir uma relação mais séria... ou que tinha descoberto que tinha uma doença mortal…
- Olha Ana.... Podes confiar em mim. Sabes que sou uma pessoa totalmente calma, racional e com um auto-controlo muito grande. Acho que podes dizer-me o que nos trouxe aqui… (Agora é que reparo… Duas saídas na mesma semana sem bengala… Deve ser inédito…)
-Francisco… Não me ia sentir nada bem se te dissesse agora… Por favor tenta compreender… É um assunto sério mas que pode esperar…
Esperar… Se pudesse esperar, ter-me-ia telefonado aquela hora para irmos tomar café? Não gosto nada de forçar as coisas… Não vai ser agora que vou começar…
- Ok. Tu é que sabes… Vamos então aproveitar para falar de coisas alegres e divertirmo-nos um pouco. –digo não muito confiante.
Mais uns minutos de conversa de chacha e dou a desculpa que tenho de me deitar cedo por causa da viagem…
Levo-a a casa e vou directo para a cama… Ainda fico uns minutos a pensar na revelação extraordinária que a Ana tem para me dizer mas depressa entrego-me ao mundo dos sonhos.
“Parava no café quando eu lá estava… A voz tinha o talento dos pedintes… Entre um e cigarro e outro, lá cravava a bica ao melhor dos seus ouvintes…” São as primeiras palavras que ouço no dia… Que sorte o rádio que me servia de despertador tocava os Loucos de Lisboa dos Ala dos Namorados…
Chamo um táxi e mando-o para o aeroporto…

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