Devaneios... Nada mais...

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Insónia ( II )

(continuação)
No final solta uma gargalhada. Boa! Acertei em cheio… Dei a resposta errada!

─ Desculpe se me ri. Chamo-me Sofia. Muito prazer. Acho que temos sensivelmente a mesma idade. Podemos deixar-nos desta treta do você…

Com esta é que fiquei totalmente despistado… O que aconteceu? Depois daquela gargalhada deveria ter-se levanto, voltado costas e desaparecido na escuridão…

─ Muito prazer. O meu nome é Francisco… respondo ainda com ar alucinado.
─ Desculpa lá a risada… É que invades assim a MINHA praia e descreves exactamente o que me aconteceu… tirando a parte do carro. Moro uns bons metros mais para baixo e vim dar um passeio.

Desta vez rimos em uníssono.

Começamos então a conversar acerca de assuntos tão sérios e banais como o Tempo, viagens, entre outros, enquanto o Tejo vai-nos desafiando para lhe atirar mais uma vez o pau que incansavelmente nos devolve.

O tempo voa… Olho para o relógio. O ponteiro pequeno está entre as quatro e as cinco. Bolas! Amanhã, aliás, hoje é dia de trabalho…

─ Já viste as horas… Daqui a quatro horas e meia tenho de estar na Boavista para começar a trabalhar. Tenho de ir para casa.

Também ela fica meia atarantada. Nunca pensou que fosse tão tarde…

Despedimo-nos a correr. Ainda lhe pergunto se quer que a deixe em algum lado mas, graciosamente recusa e começa caminhar pela praia, presumivelmente em direcção a sua casa. Quando estou a chegar perto do carro grita-me qualquer coisa inaudível. Deve ter sido adeus ou algo do género. Grito também adeus e arranco…

Vagarosamente, o carro conduz-se até casa… Vou ter de ligar os despertadores que tiver em casa para não faltar à reunião… Começo pelo micro-hifi que tenho no quarto, para tentar acordar relaxadamente pela voz de Dianna Krall… Agora tenho de por o telemóvel a despertar dez minutos depois para o caso do aparelho sonoro “misteriosamente” se desligar… Hmmm… onde está o telemóvel… Procuro todos os bolsos e nada encontro… Será que o deixei no carro? O elevador demora uma eternidade a chegar à garagem… Procuro debaixo do banco, no porta-luvas e em todos os compartimentos do carro. Não aparece! Bolas!!! Provavelmente deve ter ficado na praia…

Perdi as minhas algemas e brinquedo preferido. Eu, que adoro a liberdade, como foi possível ter ficado tão dependente duma coisa destas… Quantas vezes já não me deu cabo de jantares e encontros íntimos quando toca e do outro lado ouve-se uma voz

“- Boa noite Sr. Eng.º. Desculpe estar a incomodá-lo a estas horas, mas temos um problemazinho…”

Apetece-me responder:

“- Ai sim? Então se é um problemazinho porque é que você não o resolve???”
Infelizmente lá tenho de abandonar o que estou a fazer e ajudar essas pessoas sem vida própria… Já para não falar da Clara – o meu último caso amoroso – Era impossível!!! Sempre que me atrasava um bocadinho lá vinha o telefonema: “- Onde estás? Não te esqueceste de mim, pois não?” Acontecia-lhe qualquer coisinha, tipo partir uma unha, lá vinha a mensagem escrita “Nem imaginas o que me aconteceu! Parti uma unha!” e se não respondia à mensagem quando estivesse com ela lá levava a reprimenda….

Se bem que também sabe bem ouvi-lo tocar em certas ocasiões e do outro lado ouvir uma voz que me é querida. Lembro-me da última reunião que tive com os restantes coordenadores de equipas. Que nome pomposo tem este meu trabalho… é melhor explicar o que faço… a empresa onde trabalho, realiza projectos de concepção de novos produtos electrónicos. Para tal, existem várias equipas responsáveis por diversos passos que devem ser realizados até que o produto seja concluído, como a equipa de design, a equipa que faz o estudo de mercado, etc. Eu estou responsável pela equipa que define as normas de qualidade e segurança desse produto. Voltando então à última reunião que tive… Estava então reunido com os restantes coordenadores, e o do design lá apresentava diversos protótipos de como se iria apresentar o novo leitor de DVD portátil. Coitado do homem… Até é boa pessoa mas ouvi-lo a falar é uma seca!!! Parece que alguém sabia o que estava a acontecer. No bolso senti o telemóvel a vibrar. Era a Ana. Pedi desculpa e saí com a desculpa que os meus coordenandos estavam com um problema importantíssimo. Demos dois dedos de conversa, combinamos almoçar e quando voltei já o Eng.º Torres tinha acabado a sua exposição e no final ainda fui felicitado pelo chefe do projecto por ser uma pessoa dinâmica e empenhada em resolver os problemas da minha área.
Outra das coisas que sabe bem neste brinquedo, mesmo que montes de pessoas achem que é falta de imaginação, vulgar ou “pimba” é receber uma daquelas mensagens escritas tipo:
“Cada vez que me despeço de ti, um pedaço de mim fica contigo. E hoje, acho que foi o meu coração. Adoro-te”. Deixa-me sempre com um sorriso nos lábios e mais bem disposto para o resto do dia.

Acho que hoje já não durmo. Vou de directa para a reunião. Provavelmente é melhor que assim seja. Sempre que durmo apenas algumas horas no dia, fico sempre mal disposto…

Sem comentários: