Devaneios... Nada mais...

sexta-feira, outubro 08, 2004

Paragem de autocarro

Era o meu primeiro dia de trabalho. Estava na paragem do 54, antecipando o momento em que
seria lançado às feras, com aquele formigueiro, aquela adrenalina, que percorria todo o
corpo. De repente, como numa peça de teatro, as luzes baixaram-se até estar tudo no breu, e
um holofote foca uma jovem que se vem aproximando lenta e despreocupadamente até parar na fila do autocarro. Era uma daquelas pessoas, que emanam uma aura, uma energia inexplicavél, que não consegue deixar ninguém indiferente. Depois de dois minutos nas luzes da ribalta, lá chega o "Volvo" azul que dá por terminado o momento, e me levará de volta ao meu mundo.
Apesar de ser uma hora relativamente movimentada, o autocarro ia meio cheio (não meio
vazio...). Como sempre dirijo-me para a rectaguarda do autocarro. Havia dois lugares, frente
a frente... Apeteceu-me ir de costas para o condutor e ver o meu mundo ficar para trás
enquanto entrava numa realidade completamente diferente. Sem sequer ter tempo de pensar
nisto, a rapariga sentou-se à minha frente. Era mesmo cativante e intrigante. Os seus olhos
grandes e verdes penetravam-me como facas, analisando o mais recondito espaço da minha
mente. Era complicado olhar em frente. Com um olhar aniquiliva-me. E apesar daquele olhar
profundo, os seus olhos espelhavam uma alma fantástica. Naquele momento apostava que à minha frente tinha alguém fora de série.

Afinal o primeiro dia de trabalho nem foi assim tão assustador como pensava que seria. Se
calhar foi uma boa premonição que tive no início do dia...

Todos os dias seguintes, àquela hora da manhã lá aparecia ela, dona do seu nariz para
apanhar o autocarro, e alguma forma tornar a minha viagem mais interessante, com aquela
troca de olhares indiscretos e misteriosos que iam acontecendo.

15 dias passaram da primeira vez que a vi, deslumbrante aproximando, e pela vez, nesse dia
ela não apareceu. Não consegui deixar de me perguntar o que teria acontecido. Teria ela
adoecido? Mudado de casa? Arranjado um emprego num qualquer local remoto do planeta? Como seriam agoram as viagens? O dia começava um pouco mais cinzento. Nesse dia saí do trabalho mais tarde do que o costume. Ou melhor, os problemas que houve no
serviço, não me deixaram sair mais cedo. Como um robô, mal saí do emprego, dirigi-me
mecanicamente para a paragem, entrado no carro e sentando nos ínumeros lugares vazios que
havia. Olhei para o relógio... Eram 21h00... Sem dar por mim, nesse exacto momento sentou-se ao meu lado, a rapariga dos olhos verdes... Pela primeira vez ouvi a sua voz. O seu
telemóvel tocava. Não tive remédio senão ouvir a sua breve conversa... Pelos vistos no dia
anterior tinha estado numa festa de despedida de solteira de uma amiga numa discoteca que
não percebi o nome... Afinal foi esse o motivo... Não consegui conter-me... Tinha de saber
pelo menos o seu nome... Já não me lembro bem da desculpa que descortinei na altura e se foi algo de espectacular ou se simplesmente tive sorte... mas fiquei a saber que se chamava Joana, que trabalha em design, e que no dia seguinte ia tomar o pequeno almoço comigo!

Terá sido uma conspiração do Universo? ;)
Hoje se me perguntarem se acredito no amor, a minha resposta é: Só no amor à primeira vista!!!

quinta-feira, outubro 07, 2004

Smile

Não tenho andado com aquele bichinho de escrever. Chamem-lhe inspiração, maluquice, ou o que quiserem. Estive a passar em revista as minhas queridas músicas e fica aqui um letra fantástica. Eu ouvi-a interpretada por Nat King Cole...

Words by John Turner and Geoffrey Parsons
Music by Charlie Chaplin

Smile though your heart is aching
Smile even though it's breaking
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through for you
Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhileIf you just smile
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile

sábado, outubro 02, 2004

Crónica de uma morte anunciada

Sábado, 23 de Dezembro de 2000:

Mais um sábado passou... Vivo as semanas ansiando e rezando para que chegue o fim-de-semana. E agora que estou no fim-de-semana... Nada... Aqui, no escuro e no silêncio do meu quarto nada se passa. A esta hora apenas se vão ouvindo de tempo a tempo os sons da cidade, o ronronar de motores ao longe, o latir de ambulâncias de tempos a tempos, e mais nada. E entretanto, o meu tédio vai se transformando num raiva incrível. Ao meu lado vão aparecendo umas pessoas, que se intitulam amigas (um conceito a rever na nova edição do dicionário da língua portuguesa) que vão esperando tal como as hienas, o momento certo, uma ferida aberta, uma fraqueza, para sugar um pouco mais de mim. Ah!Ah!Ah! Quão iludidos e inocentes são, achando que não percebo as suas intenções e finalidades... E a cada minuto que passa, tudo isto vai-me consumindo e corroendo, até que tudo existe, é uma dor enorme como uma chama que queima a minha mente, personalidade... E depois? Tal como a Fénix, das cinzas surge um novo eu. E este novo eu, inevitavelmente, é alguém mais forte, mais amargo, mais rude, mais cru, mais consciente que o único motivo que me leva a avançar em frente, em continuar a levantar-me todos os dias da cama, é apenas não querer dar essa satisfação a todos aqueles que não gostam de mim, e poder continuar a linchá-los e rebaixá-los com o meu sucesso!!! Fico de repente com uma mórbida felicidade... Não preciso de ninguém! E apago mais um cigarro... Levanto-me para abrir a janela do quarto, para que a névoa de fumo que paira como abutres sobre esta divisão possa dissipar-se. E já que estou de pé... Enfio-me no carro, e parto como uma flecha rumo a estação de serviço mais próxima comprar mais um maço. E já que estou a pé, uma corridinha contra o tempo pela auto-estrada... Já lá vão uns dias que não encosto o ponteiro do velocímetro às "17h30"... Será tudo isto vícios maliciosos e auto destrutivos? Todos vivemos numa corrida contra o tempo, e não tenho nada a perder...

sexta-feira, outubro 01, 2004

O meu Baú

O meu baú contêm coisas verdadeiramente minhas, as minhas memórias, que são a única coisa realmente nossa no mundo, e as fotografias, o modo de partilhar parte de nós e dos nossos pertences.
O meu baú contém os objectos que me convencem que realmente existiram certos momentos especiais, que não foram fantasiados por mim, de que fui realmente feliz, pelo menos num instante de segundo enquanto durou um flash, formas de não perder as minhas propriedades no esquecimento, de reave-las sempre que quiser, formas de reviver emoções, de sentir saudade!
Ele tem aquilo que me diz algo, tem um bocadinho da minha alma, por isso acho piada aquelas tribos africanas que pensam que as nossas imagens palpaveis, as simples fotografias, nos roubam a alma, pelo contrario ajudam-me a construi-la...

As fotografias são por isso e com toda a certeza o meu baú das recordações! ( bom nome para o blog Quim!)