Devaneios... Nada mais...

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Insónia ( III )

(continuação)

São 5h30. A esta hora já deve haver na Shell os jornais do dia. Dou um lá saltinho para comprar o Público e o Ojogo. Aproveito para passar por uma padaria e comprar algum pão. Hoje vou ter tempo para fazer um pequeno-almoço em condições!

As notícias são as do costume… acidente no IP5, medidas do governo criticadas pela oposição, escândalo com figura pública, especulações de transferências de jogadores… a noticia boa chega no fim… O bom tempo está para durar. Ainda tenho tempo para passear um bocadinho pela net, ver se tenho correio electrónico (para além das mensagens reencaminhadas acerca de um utilizador na Nicarágua que não ligou à mensagem, não a quis reencaminhar e quando saiu de casa foi atropelado por uma scooter que vinha em contra-mão, parte os dois braços, no regresso do hospital cai em cima de um ninho de térmitas e morre de comichão…) e ainda ver qual o telemóvel que iria comprar depois da reunião.

Entretanto são 8h30 e lá me ponho a caminho da Boavista para apresentar as normas de qualidade e segurança para o telemóvel (coincidências…) em que estou a trabalhar.
Finalmente chega a famigerada reunião me roubou a conversa tão boa que estava a ter na noite anterior! Com um certo espírito marroquino, lá apresento as normas de qualidade e segurança sempre demasiado exageradas para ter uma margem para negociar e ter sempre um produto com uma qualidade e segurança elevada. Hoje os chefões parecem estar com pressa… Não puseram nenhum entrave às minhas normas e passaram a apresentação à equipa de design. E lá vem o meu calvário outra vez… o Eng.º Torres… Dois minutos depois deste ter começado entra uma secretária dirige-se a mim e diz que está na sala de espera uma funcionária minha à espera com algo muito importante. Funcionária minha?... Todo o trabalho está praticamente concluído. O projecto está numa fase latente, à espera do visto desta reunião para poder ser passado para a versão final… Quem será?

Peço licença e saio. Intrigado, dirijo-me à sala de espera… É a Sofia! Na praia não tinha dado para perceber o charme que tinha. Corpo atlético, longos cabelos pretos e que olhos verdes! Cumprimento-a e encaminho-a ao meu escritório. Antes que fosse dizer a minha piada acerca do fato-saia que trazia vestido e da roupa que trazia vestida na praia diz-me:

- Quase não te conhecia de fato…

Pensou exactamente o mesmo que eu… Devo ter ficado com cara de carneiro mal morto porque logo de seguida reconforta-me.

- Não te preocupes. Não é uma critica… Ficas bem de fato! – observa sorrindo.

Esboço também um sorriso.

- Estava a pensar exactamente na mesma coisa!
- Como conseguiste encontrar-me? Fiquei com alguma coisa tua ontem? - pergunto-lhe.
- Não… Liguei à Luísa – secretária… Ontem deixaste o teu telemóvel na praia… Ainda gritei para não te ires embora mas disseste adeus e arrancaste logo. Tomei então a liberdade de pesquisar a agenda telefónica e lá encontrei a Luísa – secretária… Telefonei-lhe e ela disse-me que estavas aqui. Espero que não tenha interrompido nada de importante…

- Não te preocupes… Na realidade salvaste-me duplamente! Encontraste o meu brinquedo e pude sair da reunião enquanto decorre a parte a parte mais entediante. Infelizmente tenho de voltar para lá... – convenço-a então a deixar-me pagar-lhe o almoço. Peço-lhe o número para ligar quando acabar a reunião lhe telefonar a combinar o almoço.

Sorrindo diz:

- Isso foi outra coisa que fiz com o teu telemóvel… Tens aí o meu número memorizado em Sofia…

Nesse momento o telemóvel começa a tocar… Despedimo-nos e olho para ver quem ligava… É a Ana… Algo me leva a não atender o telefonema…

A Ana é uma mulher espectacular. Sócia de uma empresa de contabilidade é uma pessoa totalmente independente… Isso sempre me atraiu numa mulher… mas tem qualquer coisa que não percebo… É uma super carinhosa comigo, falamos montes de tempo ao telefone, almoçamos montes de vezes juntos (apesar de ser aquela situação de estar limitada por um horário restringido pelas horas do trabalho), mas quando chega a altura para fazer qualquer mais íntima nunca está disponível ou leva sempre consigo a sua “bengala”… Isso é mesmo coisa de adolescente… Lembro-me quando era puto que fazia isso… Para não correr o risco de um encontro se tornar demasiado chato ou constrangedor ambas as partes levavam sempre um casal amigo para tornar as coisas mais fáceis… Agora fazer isso com vinte e seis anos? Porra… já tem idade para ser mais segura… Bolas… Não sei ao certo o que ela quer…
Retorno à reunião… Quero telefonar à Sofia… Hoje parece que a reunião leva tempos infinitos a terminar…

- Parabéns meus senhores! Este projecto está muito bom. Enviem-me os documentos finais e quando a sede de Zurique der o seu aval positivo a produção do produto vai ser posta em marcha. – anuncia o chefe do projecto.

Peço à minha secretária para não me passar nenhum telefonema. Faço então o telefonema à Sofia e combinamos a almoço as 12h30 no Capa Negra na Boavista.

Sinto então um pouco de remorsos por não ter atendido o telefone à Ana e resolvo fazer-lhe uma chamada. Peço desculpa por não ter atendido o telemóvel e explico que estava numa reunião muito importante. Ela diz-me que precisa de falar comigo e pede-me para jantar com ela. Depois de me certificar que ela não lhe tinha acontecido nada de mau digo que vou marcar uma mesa num restaurante e que passo em sua casa às 19h30…

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