(continuação)
A hora do espectaculo chega num instante...
Tenho de fazer 1 tradução e resumo disto…mas fica nesta estrutura…
ACT I: Seville, 1600s. At night, outside the Commendatore's palace, Leporello grumbles about his duties as servant to Don Giovanni, a dissolute nobleman. Soon the masked Don appears, pursued by Donna Anna, the Commendatore's daughter, whom he has tried to seduce. When the Commendatore himself answers Anna's cries, he is killed in a duel by Giovanni, who escapes. Anna now returns with her fiancé, Don Ottavio. Finding her father dead, she makes Ottavio swear vengeance on the assassin. At dawn, Giovanni flirts with a high-strung traveler outside a tavern. She turns out to be Donna Elvira, a woman he once seduced in Burgos, who is on his trail. Giovanni escapes while Leporello distracts Elvira by reciting his master's long catalog of conquests. Peasants arrive, celebrating the nuptials of their friends Zerlina and Masetto; when Giovanni joins in, he pursues the bride, angering the groom, who is removed by Leporello. Alone with Zerlina, the Don applies his charm, but Elvira interrupts and protectively whisks the girl away. When Elvira returns to denounce him as a seducer, Giovanni is stymied further while greeting Anna, now in mourning, and Ottavio. Declaring Elvira mad, he leads her off. Anna, having recognized his voice, realizes Giovanni was her attacker. Dressing for the wedding feast he has planned for the peasants, Giovanni exuberantly downs champagne. Outside the palace, Zerlina begs Masetto to forgive her apparent infidelity. Masetto hides when the Don appears, emerging from the shadows as Giovanni corners Zerlina. The three enter the palace together. Elvira, Anna and Ottavio arrive in dominoes and masks and are invited to the feast by Leporello. During the festivities, Leporello entices Masetto into the dance as Giovanni draws Zerlina out of the room. When the girl's cries for help put him on the spot, Giovanni tries to blame Leporello. But no one is convinced; Elvira, Anna and Ottavio unmask and confront Giovanni, who barely escapes Ottavio's drawn sword.
ACT II: Under Elvira's balcony, Leporello exchanges cloaks with Giovanni to woo the lady in his master's stead. Leporello leads Elvira off, leaving the Don free to serenade Elvira's maid. When Masetto passes with a band of armed peasants bent on punishing Giovanni, the disguised rake gives them false directions, then beats up Masetto. Zerlina arrives and tenderly consoles her betrothed. In a passageway, Elvira and Leporello are surprised by Anna, Ottavio, Zerlina and Masetto, who, mistaking servant for master, threaten Leporello. Frightened, he unmasks and escapes. When Anna departs, Ottavio affirms his confidence in their love. Elvira, frustrated at her second betrayal by the Don, voices her rage. Leporello catches up with his master in a cemetery, where a voice warns Giovanni of his doom. This is the statue of the Commendatore, which the Don proposes Leporello invite to dinner. When the servant reluctantly stammers an invitation, the statue accepts. In her home, Anna, still in mourning, puts off Ottavio's offer of marriage until her father is avenged. Leporello is serving Giovanni's dinner when Elvira rushes in, begging the Don, whom she still loves, to reform. But he waves her out contemptuously. At the door, her screams announce the Commendatore's statue. Giovanni boldly refuses warnings to repent, even in the face of death. Flames engulf his house, and the sinner is dragged to hell. Among the castle ruins, the others plan their future and recite the moral: such is the fate of a wrongdoer.
Espectacular! Adorei… Saímos do recinto totalmente excitados. Não conseguimos parar de falar… Chegamos ao quarto hotel em segundos… Vestimos os pijamas e deitamo-nos…
Por breves minutos o silencio é total… Não tenho sono nenhum… Decido ligar a luz do telemóvel para ver que horas são…
- Ainda estás acordado? – pergunta-me…
- Estou… Não tenho sono… E tu? Em que pensas para não conseguires dormir…
Este ambiente é mesmo propício a reflexões… O silêncio e escuridão de um sítio desconhecido…
- Este fim-de-semana era mesmo o que estava a precisar… Andava mesmo confusa em casa. Estou numa relação que não ata nem desata… Acho que posso confiar em ti… Desenvolvemos nestes poucos dias uma relação mesmo porreira… Nem te passa como vai a minha vida pelo Porto… O gajo é mesmo totó… Já me fartei de mandar os sinais todos… Só me falta chegar à beira dele dar-lhe um estalo e dizer-lhe “Ò estúpido… Ainda não percebeste??? Dá-me lá um beijo e vamos avançar com isto…”
Mais uma vez a história dos sinais…
- Percebo-te completamente… Estou numa situação muito idêntica… Não quero forçar nada mas a gaja parece uma tonanha… -respondo-lhe.
- Já sei… Vamos resolver o nosso problema……… ………………………… ………………………… ………………………………………………………… …………… …………………………………………………… Vamos fazer aqui um compromisso… Quando voltarmos ao Porto resolvemos o problema… Vamos expor o problema aos interessados e logo se verá no que dá… diz-me.
- Combinado…
Ficamos a falar nos assuntos tão fúteis e profundos do amor… Adormecemos ao mesmo tempo… Tiraram-me um enorme peso dos ombros… Sinto-me muito mais leve… Foi uma conversa alucinante… Quem disse que um homem e uma mulher não podem simplesmente ser amigos? Os dois vamos provar que estão errados… Em pouco tempo tornamo-nos amigos cúmplices como há poucos… Nunca diria que conseguia falar com estes assuntos fosse com quem quer que fosse, quanto mais com uma mulher…
Devaneios... Nada mais...
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
Insónia ( VIII )
(continuação)
Quando lá chego já a Sofia me esperava com um bilhete na mão. Promete ser um fim de semana maravilhoso… Vamos despachar a bagagem de imediato. Ainda falta uma hora para o voo. Vamos tomar o pequeno almoço e ficamos a observar de um modo jocoso os passageiros que vão passando… Há de tudo… Os empresários, os turistas, os famigerados emigrantes que voltam ao país pensando que vão ter honras de Estado e os velhotes que vêm no aeroporto um bom sitio para passear…
Finalmente entramos no avião… E daqui a nada vem a parte que mais detesto… aquela pressão sobre os ouvidos que faz parecer que vão explodir…
Vamos dando uma vista de olhos pelas revistas que compramos quando a Sofia para numa página…
-Signo? –pergunta-me ela.
- Sou peixes… Nasci no belo dia de 25 de Fevereiro… -respondo-lhe.
- A consciência pisciana é sutil e sensível. Sem se deter em ponto nenhum, ela capta a impressão geral das situações. Donos de uma mente maleável, eles ajustam a visão e o foco dependendo de cada momento, como a lente de um fotógrafo. Sem um olhar preestabelecido, o melhor nos piscianos acontece quando não esperam nem buscam alguma coisa. É neste instante que acham… Interessante…
- Agora tu… Também quero saber… digo-lhe eu…
- Deixa cá ver… 14 de Junho… Gémeos… Gêmeos, o primeiro signo da trilogia do Ar, possui a inteligência das palavras, dos significados, da comunicação. É dele o dom de falar para o outro da maneira mais compreensível possível, explorando a linguagem em todas as suas formas: gestual, escrita e falada. Os geminianos têm a clareza de saber perguntar, buscar informações, colocar em palavras aquilo que para muitos só pode ser sentido, tocado ou imaginado.
- 14 de Junho??? Então o teu aniversário é amanhã… Ainda bem que isto aconteceu… Vou ter de te comprar um prenda…
Chegamos a Viena às 15h32 e dirigimo-nos ao hotel onde tenho a minha reserva…
O hotel está cheio de gente… Interessante… Nunca diria que houvesse tanta gente interessada em Viena nesta altura do ano…
Dirigimo-nos à recepção e peço a minha reserva e outro quarto para a Sofia… O funcionário lá consulta o seu computador e faz uma cara não muito amigável…
Num inglês com um sotaque algo esquisito diz-me:
-I’m sorry sir… We’re full… You know… There’s a major convention here… All hotels in Viena are crowded…
Ai a ironia… Não há quartos em Viena…
- Não há problema. Tens um quarto não tens? Acho que cabemos os dois nele. Não te preocupes que eu não ocupo muito espaço… -diz-me a Sofia, sempre despachada…
Falo com o funcionário acerca da possibilidade de colocar uma cama extra no quarto. Vou dormir com a Sofia… No mesmo quarto claro…
Subimos até ao terceiro andar… Quarto onze… Camas separadas… Vá lá… Vai ser mais simples do que imaginava… Nem quero pensar como seria com uma cama de casal… Assim a tentação passa a morar mais longe…
Tenho de ir fazer a minha apresentação… Combinamos estar no Hotel às 19h30 para ir almoçar…
A apresentação corre às mil maravilhas… O meu alemão e inglês não é assim tão mau… Acho que ficaram impressionados com o meu trabalho… Querem-me levar a um restaurante que dizem ser ser muito bom… Explico que tenho a Sofia à espera… Não gosto muito destes jantares mas recusar era algo rude… Espero que ela não se importe de vir almoçar com estes “fatos” todos…
Amanha é o aniversário da Sofia… Saí da reunião relativamente cedo… Vou aproveitar para ir comprar uma prenda qualquer… Vai ser complicado… Entro no táxi e peço para ir para o centro… Passamos por um edifício espectacular… Pergunto ao taxista o que é… Diz-me que é a “Wiener Staatsoper”… A ópera de Viena… Peço para parar mesmo aqui… Grande ideia… Vou comprar bilhetes para a ópera… Espero que haja uma amanha e que ainda tenha lugares… Vou até lá… Dirijo-me à bilheteira… Ainda à lugares… São algo carotes mas… É uma vez… O dinheiro é para ser gasto… Não está a fazer nada fechado no banco… Peço dois. O bilhete marca Mozart’s "Don Giovanni"… Espero que a Sofia goste da surpresa… Sempre compenso-lhe pela seca que vai apanhar no jantar de hoje…
São 19h20 quando chego ao hotel… A Sofia já cá está no quarto…
- Olá… Estou de volta… mas trago más notícias… Tenho de ir jantar com os manda-chuva aqui da zona… Queres fazer-me um favor e vir também… Detesto estas coisas… Apanho sempre cada seca…
- Vamos lá… Aproveitamos e gozamos um bocado com os totós… -diz-me descontraidamente.
- Vou ter de trocar de roupa…
- Ok. Então enquanto te trocas vou dar uma vista de olhos ao jornal na sala de espera… Quando estiveres pronta vai lá ter. –digo, lamentando-me do longo tempo que vou ter de estar à espera enquanto escolhe os sapatos que combinem com a bolsa, ponha montanhas de maquilhagem e o mais que as mulheres fazem… mulheres… Não podemos viver sem elas…
Enquanto espero vou folheando o Der Standard… Apenas meia hora depois vejo-a descer a escadaria que dá para sala de espera… Demorou pouco… E a raquítica espera a que estive sujeito, valeu a pena… Está absolutamente deslumbrante… Nem quero acreditar nos meus olhos… Os austríacos vão ficar doidos…
Chegamos ao restaurante e já lá está a tropa toda reunida… Mulheres de um lado e os homens a beber no bar enquanto um ou outro fumam um cigarro… Ainda bem que estão na Europa… Não têm de se preocupar com o valor excessivo dos cigarros causado por um qualquer embargo ao melhor produtor do mundo… Aproximo-me deles e apresento a Sofia… Parecem cães babados… mas sempre ao estilo nórdico muito respeitadores…
Que longo jantar… Já acabámos a sobremesa e estou farto de ouvir falar da recessão da economia mundial, da globalização, do Euro, do Dollar, do petróleo… Que seca… Se não fosse a conversa paralela com a Sofia, já tinha adormecido…
Subitamente a Sofia levanta-se e puxa-me…
- Ladys and gentlemen… We’re very sorry but we need to go… Our child is waiting in the Hotel and we don’t like to leave him alone for very long. We’ve enjoyed your company a lot and we hope we’ll meet again…
Nem sei o que dizer… Esta mulher não pára de me surpreender…
O resto da mesa diz que compreende perfeitamente e que acha louvável a nossa atitude… Desejam-nos boa sorte e lá nos despedimos…
Saímos do restaurante às gargalhadas… Não acredito no que acabamos de fazer… O dia já vai longo e decidimos voltar ao hotel. Já é o aniversário dela mas faço-me de despercebido…
Vestimos os pijamas e deitamo-nos… Foi um dia cansativo… Adormecemos de imediato, com o sinal de “stören Sie nicht“ no lado de fora da porta…
São duas e meia quando acordo... Deixo um recado na mesa:
„Bom Dia dorminhoca... Fui até à sala de estar dar uma vista de olhos nas noticias... Estavas a dormir tão bem que não te quis acordar... Beijinhos“
Mais uma vez dou uma olhadela ao Der Standard... Quem dera ter aqui Ojogo... Saber quais as ultimas cusquices do mundo do futebol... Estou a olhar para o jornal... mas não leio nada... Estou entregue aos pensamentos... O que é que quero? Será a Ana? Será a Sofia? Se calhar estou um pouco atraído pela Sofia devido ao impasse com a Ana... Não saímos do sítio... O que será? Não apercebo que alguém se aproxima atrás de mim... Umas mãos tapam-me os olhos...
- Adivinha quem é?
Um sorriso desenha-se de imediato na minha face...
- Hmmm... Não sei... Será a Ana?
Bolas!!! Troquei os nomes... Tenho de me desenrascar desta situação...
- Já sei... É a Inês....
- Não... a Rita...
- Ou será a Maria?
Seguro-lhe as mãos e dou-lhe os parabéns...
- Feliz aniversário... Tenho uma surpresa para ti... Vamos almoçar... És a aniversariante... Eu pago...
Vamos a um restaurantezinho no centro da cidade... A meio do almoço puxo dos bilhetes e coloco-os em cima da mesa...
-Está aqui a minha prenda... Espero que gostes...
Ela pega neles e esboça um sorriso de orelha a orelha...
- Estás maluco? Isto deve ter custado uma fortuna... Não sei se posso aceitar...
- Claro que podes... Além disso não vou ver isto sozinho... E hoje o nosso filho tem a ama do hotel por conta dele...
- Ah ah ah... Que piada... Convenceste-me. Adorei a tua prenda... Obrigado. És uma pessoa espectacular!
Quando lá chego já a Sofia me esperava com um bilhete na mão. Promete ser um fim de semana maravilhoso… Vamos despachar a bagagem de imediato. Ainda falta uma hora para o voo. Vamos tomar o pequeno almoço e ficamos a observar de um modo jocoso os passageiros que vão passando… Há de tudo… Os empresários, os turistas, os famigerados emigrantes que voltam ao país pensando que vão ter honras de Estado e os velhotes que vêm no aeroporto um bom sitio para passear…
Finalmente entramos no avião… E daqui a nada vem a parte que mais detesto… aquela pressão sobre os ouvidos que faz parecer que vão explodir…
Vamos dando uma vista de olhos pelas revistas que compramos quando a Sofia para numa página…
-Signo? –pergunta-me ela.
- Sou peixes… Nasci no belo dia de 25 de Fevereiro… -respondo-lhe.
- A consciência pisciana é sutil e sensível. Sem se deter em ponto nenhum, ela capta a impressão geral das situações. Donos de uma mente maleável, eles ajustam a visão e o foco dependendo de cada momento, como a lente de um fotógrafo. Sem um olhar preestabelecido, o melhor nos piscianos acontece quando não esperam nem buscam alguma coisa. É neste instante que acham… Interessante…
- Agora tu… Também quero saber… digo-lhe eu…
- Deixa cá ver… 14 de Junho… Gémeos… Gêmeos, o primeiro signo da trilogia do Ar, possui a inteligência das palavras, dos significados, da comunicação. É dele o dom de falar para o outro da maneira mais compreensível possível, explorando a linguagem em todas as suas formas: gestual, escrita e falada. Os geminianos têm a clareza de saber perguntar, buscar informações, colocar em palavras aquilo que para muitos só pode ser sentido, tocado ou imaginado.
- 14 de Junho??? Então o teu aniversário é amanhã… Ainda bem que isto aconteceu… Vou ter de te comprar um prenda…
Chegamos a Viena às 15h32 e dirigimo-nos ao hotel onde tenho a minha reserva…
O hotel está cheio de gente… Interessante… Nunca diria que houvesse tanta gente interessada em Viena nesta altura do ano…
Dirigimo-nos à recepção e peço a minha reserva e outro quarto para a Sofia… O funcionário lá consulta o seu computador e faz uma cara não muito amigável…
Num inglês com um sotaque algo esquisito diz-me:
-I’m sorry sir… We’re full… You know… There’s a major convention here… All hotels in Viena are crowded…
Ai a ironia… Não há quartos em Viena…
- Não há problema. Tens um quarto não tens? Acho que cabemos os dois nele. Não te preocupes que eu não ocupo muito espaço… -diz-me a Sofia, sempre despachada…
Falo com o funcionário acerca da possibilidade de colocar uma cama extra no quarto. Vou dormir com a Sofia… No mesmo quarto claro…
Subimos até ao terceiro andar… Quarto onze… Camas separadas… Vá lá… Vai ser mais simples do que imaginava… Nem quero pensar como seria com uma cama de casal… Assim a tentação passa a morar mais longe…
Tenho de ir fazer a minha apresentação… Combinamos estar no Hotel às 19h30 para ir almoçar…
A apresentação corre às mil maravilhas… O meu alemão e inglês não é assim tão mau… Acho que ficaram impressionados com o meu trabalho… Querem-me levar a um restaurante que dizem ser ser muito bom… Explico que tenho a Sofia à espera… Não gosto muito destes jantares mas recusar era algo rude… Espero que ela não se importe de vir almoçar com estes “fatos” todos…
Amanha é o aniversário da Sofia… Saí da reunião relativamente cedo… Vou aproveitar para ir comprar uma prenda qualquer… Vai ser complicado… Entro no táxi e peço para ir para o centro… Passamos por um edifício espectacular… Pergunto ao taxista o que é… Diz-me que é a “Wiener Staatsoper”… A ópera de Viena… Peço para parar mesmo aqui… Grande ideia… Vou comprar bilhetes para a ópera… Espero que haja uma amanha e que ainda tenha lugares… Vou até lá… Dirijo-me à bilheteira… Ainda à lugares… São algo carotes mas… É uma vez… O dinheiro é para ser gasto… Não está a fazer nada fechado no banco… Peço dois. O bilhete marca Mozart’s "Don Giovanni"… Espero que a Sofia goste da surpresa… Sempre compenso-lhe pela seca que vai apanhar no jantar de hoje…
São 19h20 quando chego ao hotel… A Sofia já cá está no quarto…
- Olá… Estou de volta… mas trago más notícias… Tenho de ir jantar com os manda-chuva aqui da zona… Queres fazer-me um favor e vir também… Detesto estas coisas… Apanho sempre cada seca…
- Vamos lá… Aproveitamos e gozamos um bocado com os totós… -diz-me descontraidamente.
- Vou ter de trocar de roupa…
- Ok. Então enquanto te trocas vou dar uma vista de olhos ao jornal na sala de espera… Quando estiveres pronta vai lá ter. –digo, lamentando-me do longo tempo que vou ter de estar à espera enquanto escolhe os sapatos que combinem com a bolsa, ponha montanhas de maquilhagem e o mais que as mulheres fazem… mulheres… Não podemos viver sem elas…
Enquanto espero vou folheando o Der Standard… Apenas meia hora depois vejo-a descer a escadaria que dá para sala de espera… Demorou pouco… E a raquítica espera a que estive sujeito, valeu a pena… Está absolutamente deslumbrante… Nem quero acreditar nos meus olhos… Os austríacos vão ficar doidos…
Chegamos ao restaurante e já lá está a tropa toda reunida… Mulheres de um lado e os homens a beber no bar enquanto um ou outro fumam um cigarro… Ainda bem que estão na Europa… Não têm de se preocupar com o valor excessivo dos cigarros causado por um qualquer embargo ao melhor produtor do mundo… Aproximo-me deles e apresento a Sofia… Parecem cães babados… mas sempre ao estilo nórdico muito respeitadores…
Que longo jantar… Já acabámos a sobremesa e estou farto de ouvir falar da recessão da economia mundial, da globalização, do Euro, do Dollar, do petróleo… Que seca… Se não fosse a conversa paralela com a Sofia, já tinha adormecido…
Subitamente a Sofia levanta-se e puxa-me…
- Ladys and gentlemen… We’re very sorry but we need to go… Our child is waiting in the Hotel and we don’t like to leave him alone for very long. We’ve enjoyed your company a lot and we hope we’ll meet again…
Nem sei o que dizer… Esta mulher não pára de me surpreender…
O resto da mesa diz que compreende perfeitamente e que acha louvável a nossa atitude… Desejam-nos boa sorte e lá nos despedimos…
Saímos do restaurante às gargalhadas… Não acredito no que acabamos de fazer… O dia já vai longo e decidimos voltar ao hotel. Já é o aniversário dela mas faço-me de despercebido…
Vestimos os pijamas e deitamo-nos… Foi um dia cansativo… Adormecemos de imediato, com o sinal de “stören Sie nicht“ no lado de fora da porta…
São duas e meia quando acordo... Deixo um recado na mesa:
„Bom Dia dorminhoca... Fui até à sala de estar dar uma vista de olhos nas noticias... Estavas a dormir tão bem que não te quis acordar... Beijinhos“
Mais uma vez dou uma olhadela ao Der Standard... Quem dera ter aqui Ojogo... Saber quais as ultimas cusquices do mundo do futebol... Estou a olhar para o jornal... mas não leio nada... Estou entregue aos pensamentos... O que é que quero? Será a Ana? Será a Sofia? Se calhar estou um pouco atraído pela Sofia devido ao impasse com a Ana... Não saímos do sítio... O que será? Não apercebo que alguém se aproxima atrás de mim... Umas mãos tapam-me os olhos...
- Adivinha quem é?
Um sorriso desenha-se de imediato na minha face...
- Hmmm... Não sei... Será a Ana?
Bolas!!! Troquei os nomes... Tenho de me desenrascar desta situação...
- Já sei... É a Inês....
- Não... a Rita...
- Ou será a Maria?
Seguro-lhe as mãos e dou-lhe os parabéns...
- Feliz aniversário... Tenho uma surpresa para ti... Vamos almoçar... És a aniversariante... Eu pago...
Vamos a um restaurantezinho no centro da cidade... A meio do almoço puxo dos bilhetes e coloco-os em cima da mesa...
-Está aqui a minha prenda... Espero que gostes...
Ela pega neles e esboça um sorriso de orelha a orelha...
- Estás maluco? Isto deve ter custado uma fortuna... Não sei se posso aceitar...
- Claro que podes... Além disso não vou ver isto sozinho... E hoje o nosso filho tem a ama do hotel por conta dele...
- Ah ah ah... Que piada... Convenceste-me. Adorei a tua prenda... Obrigado. És uma pessoa espectacular!
quinta-feira, fevereiro 17, 2005
Insónia ( VII )
(continuação)
Em dez minutos estou em casa dela… Mora na Foz… Ainda bem que é noite, senão o transito ia ser impossível…
- Olá miúda! , digo sorrindo, não se passa nada de especial pois não?
- Olá… Não… não é nada demais… Falamos no café…
Durante, a interminável viagem de dez minutos até ao Lais de Guia (mais uma bar à beira praia…), tento quebrar aquele ambiente algo pesado falando da minha viagem para a Áustria… Claro que não menciono a Sofia… Sinto-me algo mal com isso… Mas não estou a mentir em nada… Apenas omito a verdade… Claro que acho que estamos interessados um no outro, mas não temos nenhum compromisso… Além disso, a Sofia é só uma amiga bem recente…
- Ah… Vais amanhã apresentar um trabalho para a Áustria… Muito bem… -diz com um ar algo desiludido…
Não percebo… Devia ter feliz com o meu sucesso…
Enfim chegamos ao bar… Como de costume temos de esperar uns dez minutos por uma mesa. Mais dez minutos de conversa de chacha que não leva a lado nenhum… Os alunos dela que começam a andar com a cabeça em água por causa dos exames, a minha possibilidade de promoção…
Avisto uma mesa no canto… Perfeito… Mesmo o que era preciso para conversar intimamente…
Lá vem o empregado… Ela como sempre, pede a sua água tónica… Já começo a saber muitos dos hábitos… Também é normal ao fim de seis meses… Pensando bem não sei se é normal… Eu lá peço um Ginger Ale e dou tempo para ela começar a falar.
- Então amanha vais passear… Isso muda totalmente as circunstâncias… Não te queria deixar a pensar no que vou dizer com um trabalho tão importante para fazeres… - diz-me sadicamente…
Circunstâncias… Quais circunstâncias? E não dizer nada também não me vai deixar a matutar? Só me deixar maluco era se dissesse que queria assumir uma relação mais séria... ou que tinha descoberto que tinha uma doença mortal…
- Olha Ana.... Podes confiar em mim. Sabes que sou uma pessoa totalmente calma, racional e com um auto-controlo muito grande. Acho que podes dizer-me o que nos trouxe aqui… (Agora é que reparo… Duas saídas na mesma semana sem bengala… Deve ser inédito…)
-Francisco… Não me ia sentir nada bem se te dissesse agora… Por favor tenta compreender… É um assunto sério mas que pode esperar…
Esperar… Se pudesse esperar, ter-me-ia telefonado aquela hora para irmos tomar café? Não gosto nada de forçar as coisas… Não vai ser agora que vou começar…
- Ok. Tu é que sabes… Vamos então aproveitar para falar de coisas alegres e divertirmo-nos um pouco. –digo não muito confiante.
Mais uns minutos de conversa de chacha e dou a desculpa que tenho de me deitar cedo por causa da viagem…
Levo-a a casa e vou directo para a cama… Ainda fico uns minutos a pensar na revelação extraordinária que a Ana tem para me dizer mas depressa entrego-me ao mundo dos sonhos.
“Parava no café quando eu lá estava… A voz tinha o talento dos pedintes… Entre um e cigarro e outro, lá cravava a bica ao melhor dos seus ouvintes…” São as primeiras palavras que ouço no dia… Que sorte o rádio que me servia de despertador tocava os Loucos de Lisboa dos Ala dos Namorados…
Chamo um táxi e mando-o para o aeroporto…
Em dez minutos estou em casa dela… Mora na Foz… Ainda bem que é noite, senão o transito ia ser impossível…
- Olá miúda! , digo sorrindo, não se passa nada de especial pois não?
- Olá… Não… não é nada demais… Falamos no café…
Durante, a interminável viagem de dez minutos até ao Lais de Guia (mais uma bar à beira praia…), tento quebrar aquele ambiente algo pesado falando da minha viagem para a Áustria… Claro que não menciono a Sofia… Sinto-me algo mal com isso… Mas não estou a mentir em nada… Apenas omito a verdade… Claro que acho que estamos interessados um no outro, mas não temos nenhum compromisso… Além disso, a Sofia é só uma amiga bem recente…
- Ah… Vais amanhã apresentar um trabalho para a Áustria… Muito bem… -diz com um ar algo desiludido…
Não percebo… Devia ter feliz com o meu sucesso…
Enfim chegamos ao bar… Como de costume temos de esperar uns dez minutos por uma mesa. Mais dez minutos de conversa de chacha que não leva a lado nenhum… Os alunos dela que começam a andar com a cabeça em água por causa dos exames, a minha possibilidade de promoção…
Avisto uma mesa no canto… Perfeito… Mesmo o que era preciso para conversar intimamente…
Lá vem o empregado… Ela como sempre, pede a sua água tónica… Já começo a saber muitos dos hábitos… Também é normal ao fim de seis meses… Pensando bem não sei se é normal… Eu lá peço um Ginger Ale e dou tempo para ela começar a falar.
- Então amanha vais passear… Isso muda totalmente as circunstâncias… Não te queria deixar a pensar no que vou dizer com um trabalho tão importante para fazeres… - diz-me sadicamente…
Circunstâncias… Quais circunstâncias? E não dizer nada também não me vai deixar a matutar? Só me deixar maluco era se dissesse que queria assumir uma relação mais séria... ou que tinha descoberto que tinha uma doença mortal…
- Olha Ana.... Podes confiar em mim. Sabes que sou uma pessoa totalmente calma, racional e com um auto-controlo muito grande. Acho que podes dizer-me o que nos trouxe aqui… (Agora é que reparo… Duas saídas na mesma semana sem bengala… Deve ser inédito…)
-Francisco… Não me ia sentir nada bem se te dissesse agora… Por favor tenta compreender… É um assunto sério mas que pode esperar…
Esperar… Se pudesse esperar, ter-me-ia telefonado aquela hora para irmos tomar café? Não gosto nada de forçar as coisas… Não vai ser agora que vou começar…
- Ok. Tu é que sabes… Vamos então aproveitar para falar de coisas alegres e divertirmo-nos um pouco. –digo não muito confiante.
Mais uns minutos de conversa de chacha e dou a desculpa que tenho de me deitar cedo por causa da viagem…
Levo-a a casa e vou directo para a cama… Ainda fico uns minutos a pensar na revelação extraordinária que a Ana tem para me dizer mas depressa entrego-me ao mundo dos sonhos.
“Parava no café quando eu lá estava… A voz tinha o talento dos pedintes… Entre um e cigarro e outro, lá cravava a bica ao melhor dos seus ouvintes…” São as primeiras palavras que ouço no dia… Que sorte o rádio que me servia de despertador tocava os Loucos de Lisboa dos Ala dos Namorados…
Chamo um táxi e mando-o para o aeroporto…
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Insónia ( VI )
(continuação)
Esta quinta-feira está a ser avassaladora… Já vou a meio da tarde e já analisei os relatórios das outras equipas e comecei a preparação da apresentação para os “senhores” de Viena… Não me posso esquecer de telefonar à Sofia a combinar o nosso cafezinho… Parece que não é comprometida… Caso fosse com certeza não iria tomar um café depois de jantar comigo…
- Allô, Sofia. É o Francisco…
- Olá Sr. Eng. Está tudo bem?
-Ah ah. Está tudo bem! Logo sempre vamos tomar um cafezito?
- Claro que sim. Estava a ver que te tinhas esquecido… Sabes onde me apetecia ir? Ao Cais de Gaia…
- Perfeito! Gosto muito dessa zona. Às 21h30 está bom para ti?
- Ok. Pode ser. E fazemos assim. O primeiro a chegar senta-se numa esplanada ao ar livre, claro, e manda uma mensagem ao outro a dizer onde está.
- Fica combinado então. Até logo Sofia.
- Até logo. Beijinhos…
Estou estafado… Já são 20h45… Não vou ter tempo para jantar… Vou directo para o Cais apesar de ser ainda um pouco cedo…
Chego quando o ponteiro grande aponta para o cinco e o seu irmão para o nove… Sento-me numa esplanada virada para rio… O Porto é mesmo uma cidade mágica e encantadora… Aproveito para folhear a Quo enquanto espero… Este mês: treze métodos anti-stress recomendados pela OMS, transplantes em Portugal e Dossiê Design… Finalmente algumas boas notícias. Portugal está em 4º lugar por milhão de habitante no que respeita a doações… Um artigo chama-me a atenção… Uma comparação… Para onde um homem dirige olhar em primeiro lugar e depois a mulher… Não concordo muito com os resultados mas… Entretanto está a ficar na hora do encontro… Mando a mensagem a dizer onde estou e interiormente começa a ficar algo ansioso, antecipando o encontro…
Sinto um toque no ombro… É a Sofia… De repente o Cais iluminou-se… Há pessoas que têm esse dom… Iluminam todos os sítios onde estão… A Sofia é uma delas…
- Olá! O dia correu bem? – pergunto-lhe.
- Olá! Correu. Estou mesmo cansada… Ando a precisar de uma escapadela… Descansar um bocadinho… - responde-me
Enquanto sorrio respondo:
- Amanhã vou para Viena… Vou apresentar um produto ao fim da tarde e depois fico por lá a passear até segunda-feira…
- A sério? Estás a gozar comigo… Adorava visitar Viena… Sempre achei que era uma cidade com uma mística fantástica… Ir ver ópera… Também quero ir…
- Então anda… O voo não deve estar cheio… E depois arranjas por lá hotel… -digo-lhe.
- É uma oferta tentadora… Estou mesmo a precisar de desanuviar. Acho que vou aceitar… - responde-me.
O quê??? Ela não pode estar a falar a sério… Resolvo continuar a brincadeira…
- Ok. Então fazemos assim: o voo é as 16h30. Amanhã acordamos cedo, vamos para o aeroporto lá para as 10h30, compramos o teu bilhete e almoçamos por lá…
- Por mim está bom…
Será que está mesmo a brincar… tenho de saber…
- Estás a falar mesmo a sério? Podes vir? Agora estou confuso…
- Claro que estou… Tu não? – responde-me com uma naturalidade surpreendente.
- Eu estou…
É incrível… Conheço-a há dois dias e já tomou mais decisões que a Ana nuns poucos de meses…
Combinamos então como vamos fazer no dia seguinte, e despedimo-nos com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos…
Ainda é relativamente cedo quando chego a casa… São apenas 23h00. O saxofone olha para mim… Dirjo-me para ele… Está mesmo a apetecer-me tocar um pouco… Nesse momento toca o telefone… Estremeço da cabeça aos pés… Vai ser a Sofia a dizer que afinal não pode ir…
- Allô…
- Estou sim… Francisco? Daqui é a Ana… Preciso mesmo de falar contigo… Ontem, no jantar não te disse o verdadeiro motivo pelo qual te pedi para falar… Já tinha decidido o que fazer acerca do emprego há muito tempo… Posso passar em tua casa? Ou vamos tomar café a qualquer lado…
- Claro! Faz como quiseres… Se quiseres ir antes tomar café a qualquer lado passo em tua casa…
- Vamos a Leça então… Passa por cá então…
Esta quinta-feira está a ser avassaladora… Já vou a meio da tarde e já analisei os relatórios das outras equipas e comecei a preparação da apresentação para os “senhores” de Viena… Não me posso esquecer de telefonar à Sofia a combinar o nosso cafezinho… Parece que não é comprometida… Caso fosse com certeza não iria tomar um café depois de jantar comigo…
- Allô, Sofia. É o Francisco…
- Olá Sr. Eng. Está tudo bem?
-Ah ah. Está tudo bem! Logo sempre vamos tomar um cafezito?
- Claro que sim. Estava a ver que te tinhas esquecido… Sabes onde me apetecia ir? Ao Cais de Gaia…
- Perfeito! Gosto muito dessa zona. Às 21h30 está bom para ti?
- Ok. Pode ser. E fazemos assim. O primeiro a chegar senta-se numa esplanada ao ar livre, claro, e manda uma mensagem ao outro a dizer onde está.
- Fica combinado então. Até logo Sofia.
- Até logo. Beijinhos…
Estou estafado… Já são 20h45… Não vou ter tempo para jantar… Vou directo para o Cais apesar de ser ainda um pouco cedo…
Chego quando o ponteiro grande aponta para o cinco e o seu irmão para o nove… Sento-me numa esplanada virada para rio… O Porto é mesmo uma cidade mágica e encantadora… Aproveito para folhear a Quo enquanto espero… Este mês: treze métodos anti-stress recomendados pela OMS, transplantes em Portugal e Dossiê Design… Finalmente algumas boas notícias. Portugal está em 4º lugar por milhão de habitante no que respeita a doações… Um artigo chama-me a atenção… Uma comparação… Para onde um homem dirige olhar em primeiro lugar e depois a mulher… Não concordo muito com os resultados mas… Entretanto está a ficar na hora do encontro… Mando a mensagem a dizer onde estou e interiormente começa a ficar algo ansioso, antecipando o encontro…
Sinto um toque no ombro… É a Sofia… De repente o Cais iluminou-se… Há pessoas que têm esse dom… Iluminam todos os sítios onde estão… A Sofia é uma delas…
- Olá! O dia correu bem? – pergunto-lhe.
- Olá! Correu. Estou mesmo cansada… Ando a precisar de uma escapadela… Descansar um bocadinho… - responde-me
Enquanto sorrio respondo:
- Amanhã vou para Viena… Vou apresentar um produto ao fim da tarde e depois fico por lá a passear até segunda-feira…
- A sério? Estás a gozar comigo… Adorava visitar Viena… Sempre achei que era uma cidade com uma mística fantástica… Ir ver ópera… Também quero ir…
- Então anda… O voo não deve estar cheio… E depois arranjas por lá hotel… -digo-lhe.
- É uma oferta tentadora… Estou mesmo a precisar de desanuviar. Acho que vou aceitar… - responde-me.
O quê??? Ela não pode estar a falar a sério… Resolvo continuar a brincadeira…
- Ok. Então fazemos assim: o voo é as 16h30. Amanhã acordamos cedo, vamos para o aeroporto lá para as 10h30, compramos o teu bilhete e almoçamos por lá…
- Por mim está bom…
Será que está mesmo a brincar… tenho de saber…
- Estás a falar mesmo a sério? Podes vir? Agora estou confuso…
- Claro que estou… Tu não? – responde-me com uma naturalidade surpreendente.
- Eu estou…
É incrível… Conheço-a há dois dias e já tomou mais decisões que a Ana nuns poucos de meses…
Combinamos então como vamos fazer no dia seguinte, e despedimo-nos com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos…
Ainda é relativamente cedo quando chego a casa… São apenas 23h00. O saxofone olha para mim… Dirjo-me para ele… Está mesmo a apetecer-me tocar um pouco… Nesse momento toca o telefone… Estremeço da cabeça aos pés… Vai ser a Sofia a dizer que afinal não pode ir…
- Allô…
- Estou sim… Francisco? Daqui é a Ana… Preciso mesmo de falar contigo… Ontem, no jantar não te disse o verdadeiro motivo pelo qual te pedi para falar… Já tinha decidido o que fazer acerca do emprego há muito tempo… Posso passar em tua casa? Ou vamos tomar café a qualquer lado…
- Claro! Faz como quiseres… Se quiseres ir antes tomar café a qualquer lado passo em tua casa…
- Vamos a Leça então… Passa por cá então…
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Insónia ( V )
(continuação)
Dirijo-me ao escritório do Dr. Neves para entregar o relatório. Que bom… Três e meia e já posso ir embora.
- Boa tarde Dr. Neves. Venho entregar o relatório do trabalho da minha equipa.
- Boa tarde Eng.º Ferreira. Precisava mesmo de falar consigo. Ainda bem que cá está…
Bolas! Logo hoje que queria ir embora. Espero que não seja nada de demorado…
- Sexta-feira é a apresentação do produto na sede de Viena. Infelizmente não vou poder ir apresentá-lo. Admiro muito o seu trabalho. A sua equipa é a mais eficaz e a que produz melhor trabalho entre todas as que tenho trabalho. Queria pedir-lhe para me substituir na apresentação. É claro que lhe pagamos tudo: viagem, almoços, transportes. – diz com o seu ar sereno e repousado.
- Com certeza Sr. Dr. Não tenho nada agendado. Sexta-feira terei todo o gosto em fazer a apresentação.
- Muito bem. Aqui entre nós, não sou o único a admirar o seu trabalho. Correm boatos que estão a pensar promove-lo a director de projecto. Neste dossier estão os detalhes da viagem. Infelizmente nem todas as equipas são tão eficazes como a sua. Só ao fim da tarde é que me vão enviar os relatórios finais dos restantes departamentos. Assim que os receber envio-lhe uma cópia para o seu e-mail. Áhh. É verdade… O voo de regresso é só segunda-feira, por isso aproveite o tempo na cidade. Boa sorte.
- Obrigado. Vou dar o meu melhor. - respondo
Uiii… Este dia não é normal… A sorte está comigo…
Estamos a meio de Junho. O tempo está espectacular. Resolvo então ir a casa mudar de roupa e dar um passeio a Leça… Quem sabe o que mais me poderá acontecer hoje…
Entro no bar da Praia dos Beijinhos. Vou apreciar um pouco a praia. Peço uma água tónica e entrego-me aos pensamentos. Lembro-me da Ana. Será que gosto mesmo dela? Será que não era mais um romance qualquer. É uma mulher que qualquer um gostaria… Loira, cabelo curto, olhos escuros, fanática por ginásios e dá aulas na Faculdade de Ciências… Só tem aquele problema. Que raiva… Não sei o que ela quer… E se me abstrair vejo mais uns problemazitos… Falta-lhe um pouco de espontaneidade e tem alguns hábitos diferentes dos meus… Vamos ver um concerto e lá diz-me “Não vamos ali pró meio… Aqui vê-se bem…” Isto quando estamos a dois quilómetros do palco… Há uma festa e não quer ir porque vai estar muita gente, mas depois insiste em trazer sempre os amiguinhos para jantar. E agora? cá estou eu outra vez a tentar acertar as minhas ideias acerca do que é o amor ideal...
Toda a nossa vida somos bombardeados com histórias intermináveis de amor em que tudo corre bem e ambos vivem felizes para sempre... A história do rapaz que se apaixona pela rapariga mas que as famílias não querem, a história do rapaz que se apaixona pela rapariga mas que não sabe, e no último minuto descobre e ainda a conquista. O velho que descobre o amor num canto escondido do Universo. Enfim... Será que em Hollywood só há casais felizes? Estará isso apenas ao alcance de alguns seres predestinados... Nós os meros mortais conseguiremos alcançar a parte do "... e viveram felizes para sempre...". Analiso todos os factos e a resposta é fácil: "Não!!!". Todos os dias vemos discussões intermináveis entre casais e o número de divórcios aumenta irremediavelmente. Tudo isto leva-me a pensar para quê o amor e paixão se o nosso único objectivo é fazer com que a raça humana habite mais uns anitos na Terra...
O problema é o meu lado romântico... Olho para o que disse antes e penso... Não pode ser! O nosso objectivo na vida não pode ser o mesmo que o resto dos animais que se limitam a "amar" para dar continuidade à espécie... Que mundo cinzento seria esse... Ponho-me a pensar em todas as coisas belas que nos são oferecidas, como o nascer e o por de sol... e dou por mim a ver aqueles casais de velhotes sentados num banco de jardim com ar de adolescentes que vivem o primeiro amor... vejo um casal babado que passeia o seu filhote à beira mar, sorridentes, como que a mostrar ao mundo que o seu descendente é o melhor à face da Terra... e depois penso em todas as grandes lendas da História do amor, como D. Pedro e D. Inês de Castro, Romeu e Julieta e tantos outros... e finalmente grito: "Não pode ser!" Se não existisse o amor eterno, estes factos que enumerei não seriam possíveis... Estas histórias não existiriam... Sorrio! O meu lado romântico foi mais forte que a minha razão! Depois desta batalha entre os dois lados, o que mais luz traz à minha vida ganhou! Só me falta saber se ela é mesmo a tal... Volto a pensar na Ana…. Será o que o lado romântico ganhou mesmo? Começo a pensar se não sou eu que estou a ser demasiado exigente… Se calhar aprenderei a gostar desses pequenos defeitos dela…
De repente sou chamado de novo à Terra por um grito atrás de mim:
- Eiiiiii. Olha quem é ele! Então o que fazes por aqui?
A voz é inconfundível… É do meu melhor amigo – o Gonçalo. É um tipo espectacular. Conheço-o desde criança e é o típico menino rico. Nunca fez praticamente nada na vida. O pai é dono de umas poucas de empresas em diversos sectores. Bastou-lhe tirar o curso de Gestão Empresarial e tem a vida assegurada. No entanto apesar de todo o dinheiro é uma pessoa fantástica. É uma pessoa muito simples, sempre disposta a ajudar e com um humor fantástico… mas a característica que chama a atenção a todos é ser totalmente trapalhão. Ainda por cima é um ser imponente… um metro e noventa e uns cento e muitos quilos… Agora imagina o que acontece quando simplesmente tenta levantar-se… Lá vai um copo pelo ar. Imagina pois o que é jogar futebol com ele… Tenho sempre muitas nódoas negras para contar o que se passa….
Vem acompanhado da sua namorada de longa data… Desde que eles começaram a namorar soube que era assunto sério…
Depois de formalmente cumprimentar ambos, diz-me:
- Ainda bem que te encontro aqui… Tenho uma noticia fantástica para te dar… (Ena outra…). Ontem pedi a Catarina em casamento e ela aceitou. Claro que já sabes quem vai ser o padrinho do nosso casamento... Vai ser o Pedro. Estou a brincar. Nem penses em recusar ser o padrinho do nosso casamento.
- Ehhh pá. Claro que aceito. Parabéns!!! Sempre soube que eram feitos um para o outro. – digo-lhes.
Ficamos a recordar diversos momentos e a falar sobre como vai ser a cerimónia e todos esses pormenores necessários para um casamento até as 19h20.
- Desculpem, mas vou ter de abandoná-los. Combinei ir jantar com a Ana e já estou a ficar atrasado. Depois ligo-vos para falar convosco mais atempadamente…
- Ok. Então até amanhã…
O meu carro voa até casa da Ana… Impressionantemente consigo chegar lá as 19h30…
- Olá Anokas.
-Olá Francisco. Está tudo bem contigo?
- Comigo está tudo maravilhosamente bem… O teu telefonema é que me deixou algo preocupado… Não aconteceu nada de mal pois não?
- Não te preocupes. Durante o jantar explico-te tudo…
- Ok. Queres ir jantar a algum sitio em especial? – pergunto-lhe
- Não. Decide tu.
Guio então até à Grade. Estou impaciente para saber o que ela quer…
Pedimos filetes de tamboril com salada russa, e então volto a insistir:
- Então diz lá o que se passa…
- Olha… diz-me hesitante e faz uma pausa algo demorada…
- Ofereceram-me um emprego na Fernando Pessoa. Pagam ligeiramente mais, mas estou algo receosa em deixar a Faculdade de Ciências…
Bolas… Pensava que era algo mais importante que me queria dizer… Pensava que ia dizer que queria começar uma relação a sério… Afinal era das poucas vezes que estávamos a jantar sozinhos… sem as “muletas”… Podia jurar que estava interessada em mim… Detesto esta cena dos sinais e joguinhos… Era tão mais simples se fizéssemos simplesmente como os pavões… Os machos abriam as suas penas e a fêmea escolhia as que gostava mais e pronto… assunto resolvido! Mas não… o ser humano gosta de complicar… Em vez disso vamos antes usar sinais e mensagens subliminares e esperar que o outro as compreenda… E quem não as souber ler, azar… Sai do jogo e reduz-se à sua insignificância…
Lá lhe digo o meu ponto de vista, os prós e contras e como só ela podia fazer a decisão sozinha…
Pergunto-lhe se quer ir tomar café a algum lado, mas recusa e diz que tem aulas amanhã cedo…
Foi um dia em cheio… hoje não vou ter dificuldades em adormecer…
Dirijo-me ao escritório do Dr. Neves para entregar o relatório. Que bom… Três e meia e já posso ir embora.
- Boa tarde Dr. Neves. Venho entregar o relatório do trabalho da minha equipa.
- Boa tarde Eng.º Ferreira. Precisava mesmo de falar consigo. Ainda bem que cá está…
Bolas! Logo hoje que queria ir embora. Espero que não seja nada de demorado…
- Sexta-feira é a apresentação do produto na sede de Viena. Infelizmente não vou poder ir apresentá-lo. Admiro muito o seu trabalho. A sua equipa é a mais eficaz e a que produz melhor trabalho entre todas as que tenho trabalho. Queria pedir-lhe para me substituir na apresentação. É claro que lhe pagamos tudo: viagem, almoços, transportes. – diz com o seu ar sereno e repousado.
- Com certeza Sr. Dr. Não tenho nada agendado. Sexta-feira terei todo o gosto em fazer a apresentação.
- Muito bem. Aqui entre nós, não sou o único a admirar o seu trabalho. Correm boatos que estão a pensar promove-lo a director de projecto. Neste dossier estão os detalhes da viagem. Infelizmente nem todas as equipas são tão eficazes como a sua. Só ao fim da tarde é que me vão enviar os relatórios finais dos restantes departamentos. Assim que os receber envio-lhe uma cópia para o seu e-mail. Áhh. É verdade… O voo de regresso é só segunda-feira, por isso aproveite o tempo na cidade. Boa sorte.
- Obrigado. Vou dar o meu melhor. - respondo
Uiii… Este dia não é normal… A sorte está comigo…
Estamos a meio de Junho. O tempo está espectacular. Resolvo então ir a casa mudar de roupa e dar um passeio a Leça… Quem sabe o que mais me poderá acontecer hoje…
Entro no bar da Praia dos Beijinhos. Vou apreciar um pouco a praia. Peço uma água tónica e entrego-me aos pensamentos. Lembro-me da Ana. Será que gosto mesmo dela? Será que não era mais um romance qualquer. É uma mulher que qualquer um gostaria… Loira, cabelo curto, olhos escuros, fanática por ginásios e dá aulas na Faculdade de Ciências… Só tem aquele problema. Que raiva… Não sei o que ela quer… E se me abstrair vejo mais uns problemazitos… Falta-lhe um pouco de espontaneidade e tem alguns hábitos diferentes dos meus… Vamos ver um concerto e lá diz-me “Não vamos ali pró meio… Aqui vê-se bem…” Isto quando estamos a dois quilómetros do palco… Há uma festa e não quer ir porque vai estar muita gente, mas depois insiste em trazer sempre os amiguinhos para jantar. E agora? cá estou eu outra vez a tentar acertar as minhas ideias acerca do que é o amor ideal...
Toda a nossa vida somos bombardeados com histórias intermináveis de amor em que tudo corre bem e ambos vivem felizes para sempre... A história do rapaz que se apaixona pela rapariga mas que as famílias não querem, a história do rapaz que se apaixona pela rapariga mas que não sabe, e no último minuto descobre e ainda a conquista. O velho que descobre o amor num canto escondido do Universo. Enfim... Será que em Hollywood só há casais felizes? Estará isso apenas ao alcance de alguns seres predestinados... Nós os meros mortais conseguiremos alcançar a parte do "... e viveram felizes para sempre...". Analiso todos os factos e a resposta é fácil: "Não!!!". Todos os dias vemos discussões intermináveis entre casais e o número de divórcios aumenta irremediavelmente. Tudo isto leva-me a pensar para quê o amor e paixão se o nosso único objectivo é fazer com que a raça humana habite mais uns anitos na Terra...
O problema é o meu lado romântico... Olho para o que disse antes e penso... Não pode ser! O nosso objectivo na vida não pode ser o mesmo que o resto dos animais que se limitam a "amar" para dar continuidade à espécie... Que mundo cinzento seria esse... Ponho-me a pensar em todas as coisas belas que nos são oferecidas, como o nascer e o por de sol... e dou por mim a ver aqueles casais de velhotes sentados num banco de jardim com ar de adolescentes que vivem o primeiro amor... vejo um casal babado que passeia o seu filhote à beira mar, sorridentes, como que a mostrar ao mundo que o seu descendente é o melhor à face da Terra... e depois penso em todas as grandes lendas da História do amor, como D. Pedro e D. Inês de Castro, Romeu e Julieta e tantos outros... e finalmente grito: "Não pode ser!" Se não existisse o amor eterno, estes factos que enumerei não seriam possíveis... Estas histórias não existiriam... Sorrio! O meu lado romântico foi mais forte que a minha razão! Depois desta batalha entre os dois lados, o que mais luz traz à minha vida ganhou! Só me falta saber se ela é mesmo a tal... Volto a pensar na Ana…. Será o que o lado romântico ganhou mesmo? Começo a pensar se não sou eu que estou a ser demasiado exigente… Se calhar aprenderei a gostar desses pequenos defeitos dela…
De repente sou chamado de novo à Terra por um grito atrás de mim:
- Eiiiiii. Olha quem é ele! Então o que fazes por aqui?
A voz é inconfundível… É do meu melhor amigo – o Gonçalo. É um tipo espectacular. Conheço-o desde criança e é o típico menino rico. Nunca fez praticamente nada na vida. O pai é dono de umas poucas de empresas em diversos sectores. Bastou-lhe tirar o curso de Gestão Empresarial e tem a vida assegurada. No entanto apesar de todo o dinheiro é uma pessoa fantástica. É uma pessoa muito simples, sempre disposta a ajudar e com um humor fantástico… mas a característica que chama a atenção a todos é ser totalmente trapalhão. Ainda por cima é um ser imponente… um metro e noventa e uns cento e muitos quilos… Agora imagina o que acontece quando simplesmente tenta levantar-se… Lá vai um copo pelo ar. Imagina pois o que é jogar futebol com ele… Tenho sempre muitas nódoas negras para contar o que se passa….
Vem acompanhado da sua namorada de longa data… Desde que eles começaram a namorar soube que era assunto sério…
Depois de formalmente cumprimentar ambos, diz-me:
- Ainda bem que te encontro aqui… Tenho uma noticia fantástica para te dar… (Ena outra…). Ontem pedi a Catarina em casamento e ela aceitou. Claro que já sabes quem vai ser o padrinho do nosso casamento... Vai ser o Pedro. Estou a brincar. Nem penses em recusar ser o padrinho do nosso casamento.
- Ehhh pá. Claro que aceito. Parabéns!!! Sempre soube que eram feitos um para o outro. – digo-lhes.
Ficamos a recordar diversos momentos e a falar sobre como vai ser a cerimónia e todos esses pormenores necessários para um casamento até as 19h20.
- Desculpem, mas vou ter de abandoná-los. Combinei ir jantar com a Ana e já estou a ficar atrasado. Depois ligo-vos para falar convosco mais atempadamente…
- Ok. Então até amanhã…
O meu carro voa até casa da Ana… Impressionantemente consigo chegar lá as 19h30…
- Olá Anokas.
-Olá Francisco. Está tudo bem contigo?
- Comigo está tudo maravilhosamente bem… O teu telefonema é que me deixou algo preocupado… Não aconteceu nada de mal pois não?
- Não te preocupes. Durante o jantar explico-te tudo…
- Ok. Queres ir jantar a algum sitio em especial? – pergunto-lhe
- Não. Decide tu.
Guio então até à Grade. Estou impaciente para saber o que ela quer…
Pedimos filetes de tamboril com salada russa, e então volto a insistir:
- Então diz lá o que se passa…
- Olha… diz-me hesitante e faz uma pausa algo demorada…
- Ofereceram-me um emprego na Fernando Pessoa. Pagam ligeiramente mais, mas estou algo receosa em deixar a Faculdade de Ciências…
Bolas… Pensava que era algo mais importante que me queria dizer… Pensava que ia dizer que queria começar uma relação a sério… Afinal era das poucas vezes que estávamos a jantar sozinhos… sem as “muletas”… Podia jurar que estava interessada em mim… Detesto esta cena dos sinais e joguinhos… Era tão mais simples se fizéssemos simplesmente como os pavões… Os machos abriam as suas penas e a fêmea escolhia as que gostava mais e pronto… assunto resolvido! Mas não… o ser humano gosta de complicar… Em vez disso vamos antes usar sinais e mensagens subliminares e esperar que o outro as compreenda… E quem não as souber ler, azar… Sai do jogo e reduz-se à sua insignificância…
Lá lhe digo o meu ponto de vista, os prós e contras e como só ela podia fazer a decisão sozinha…
Pergunto-lhe se quer ir tomar café a algum lado, mas recusa e diz que tem aulas amanhã cedo…
Foi um dia em cheio… hoje não vou ter dificuldades em adormecer…
quarta-feira, fevereiro 09, 2005
Insónia ( IV )
(continuação)
Na parede o relógio marca 12h25. Surpreendentemente estou algo impaciente… Será que a Sofia está a afectar-me de algum modo? Não pode ser… Praticamente que não a conheço… Não acredito muito nessas coisas de amor à primeira vista… Se bem que nunca se sabe… À porta do Capa Negra, olho para os dois lados da rua… Não a reconheço entre as inúmeras pessoas que passam… Resolvo entrar para a recepção e fumar 1 cigarrito. No momento em que chega estou a apagar o cigarro. Depois daquele ritual de cumprimentos lá vamos para a mesa e lá começa a conversa…
- Cigarros… Isso é coisa de putos… Não achas que já tens idade para ter juízo?
Esta mulher não me deixa de espantar… Falámos duas vezes e conversamos como se já fossemos amigos de longa data…
- Concordo plenamente… Já pensei em deixar de fumar várias vezes mas para isso tenho de querer… Estou à espera da oportunidade e motivação – explico-lhe.
- Isso cheira-me a desculpa de mau pagador…
Fiquei sem fala… Não tenho como responder… Felizmente fui salvo pelo empregado que veio trazer a ementa…
Durante alguns segundos reina o silêncio enquanto lemos a ementa… Confesso que estou algo receoso que o almoço se torne numa daquelas situações constrangedoras em que ninguém sabe o que dizer…
De súbito o silêncio é interrompido.
- Já decidiste o queres almoçar? A mim está mesmo a apetecer-me uma francezinha. Já não como uma há muito tempo…
É incrível. Mais uma surpresa… Uma mulher que não se preocupa com quantas calorias tem o almoço, quanto tempo e o que vai ser necessário fazer para queimar essas calorias…
- Acho que para mim também vai ser.
Faço sinal ao empregado e lá mando vir duas francezinhas e dois finos.
Entretanto começa a tocar o meu telemóvel. Por favor que não seja a Ana… E não é mesmo… É o Luís. É o míudo que está a dar os últimos retoques na versão do relatório final que a minha equipa tem de entregar.
- Boa tarde engº Ferreira. Desculpe mas estou aqui com um problemazinho…
Bolas!!! Lá vem a história do problemazinho outra vez… Se é um problemazinho porque é que ele me está ligar??? Que mania de reduzir estas coisas ao “inho” Ainda por cima deve ser um problema como o último… “Sr. Eng.º: Acabou o tinteiro… Não consigo imprimir…” O que é que eles acham querem que faça? Que vá substituir o tinteiro?
- Luís... é assim: estou a almoçar. Se é um problemazinho, deixe de se comportar como um funcionariozinho, faça o seu trabalhinho e se quando chegar o problema ainda estiver resolvido, trato de ver o que posso fazer.
- Desculpe Sr. Eng.º… Não sabia que estava ocupado, vou tentar então resolver isto sozinho…
Nem me apercebi da resposta que dei… À minha frente a Sofia sorri.
Peço-lhe desculpa e explico a história dos “problemazinhos” que os funcionários têm, de como insistem em telefonar-me por coisas sem importância e como estou farto de ser interrompido por causa disso, perdi um pouco a cabeça…
- Percebo totalmente. Tenho uma empresa de Design Gráfico. As pessoas às vezes não têm noção nenhuma da realidade… Acontece-me montes de vezes. Aqui há uns dias faltou a luz e telefonaram-me a perguntar o que deviam fazer…
É engraçado… Ela transmite uma segurança fantástica. Deixa-me totalmente à vontade…
Entretanto a conversa evolui de uma forma assombrosa… Começamos a entrar em pormenores absolutamente fantásticos para serem ditos a alguém que mal se conhece… Desde partilhar experiências de férias, situações embaraçosas que nos aconteceram, lembranças de infância, romances falhados… Enquanto isso vou pensando numa maneira subtil de lhe perguntar se tem um caso com alguém neste momento… Mas para que raio quero saber isso? Ando interessado na Ana. Não devia meter mais uma pessoa na equação… Iria complicar-me muito a vida…
Quando estou com a Sofia o tempo parece que voa… Já são duas e meia. Nunca estive tanto tempo neste restaurante num almoço de um dia trabalho… e no entanto queria ficar mais…
Peço a conta ao empregado.
Tiro a carteira e pago. Ela insiste que deve pagar o almoço dela.
- Nem penses. –digo – Fui eu que convidei e tenho agradecer-te o enorme favor que me fizeste…
- Ok. Mas não penses que isto fica assim… -retorque
Boa! Descobri como hei-de saber se anda com alguém…
- Hmmm. Então amanhã à noite pagas-me o café… Pode ser?
- Amanhã… quinta-feira… pode ser. Liga-me a combinar. – diz-me sorrindo.
Pergunto-lhe se quer que a deixe em algum lado mas ela veio na sua viatura.
Sinto-me incrivelmente leve. Este almoço deixou-me totalmente rejuvenescido. Nem parece que passei a noite em claro.
Mal chego ao escritório o Luís vem ter comigo e diz-me, sorridente, que conseguiu resolver o problema e que tenho a versão final do relatório na minha secretária à espera para eu o reler e dar o meu aval para entregar ao director.
Nem quero saber qual foi o problema que ele teve. Ainda bem que está acabado. Vou ler o relatório rapidamente, entregá-lo e hoje o meu dia vai acabar cedo.
Na parede o relógio marca 12h25. Surpreendentemente estou algo impaciente… Será que a Sofia está a afectar-me de algum modo? Não pode ser… Praticamente que não a conheço… Não acredito muito nessas coisas de amor à primeira vista… Se bem que nunca se sabe… À porta do Capa Negra, olho para os dois lados da rua… Não a reconheço entre as inúmeras pessoas que passam… Resolvo entrar para a recepção e fumar 1 cigarrito. No momento em que chega estou a apagar o cigarro. Depois daquele ritual de cumprimentos lá vamos para a mesa e lá começa a conversa…
- Cigarros… Isso é coisa de putos… Não achas que já tens idade para ter juízo?
Esta mulher não me deixa de espantar… Falámos duas vezes e conversamos como se já fossemos amigos de longa data…
- Concordo plenamente… Já pensei em deixar de fumar várias vezes mas para isso tenho de querer… Estou à espera da oportunidade e motivação – explico-lhe.
- Isso cheira-me a desculpa de mau pagador…
Fiquei sem fala… Não tenho como responder… Felizmente fui salvo pelo empregado que veio trazer a ementa…
Durante alguns segundos reina o silêncio enquanto lemos a ementa… Confesso que estou algo receoso que o almoço se torne numa daquelas situações constrangedoras em que ninguém sabe o que dizer…
De súbito o silêncio é interrompido.
- Já decidiste o queres almoçar? A mim está mesmo a apetecer-me uma francezinha. Já não como uma há muito tempo…
É incrível. Mais uma surpresa… Uma mulher que não se preocupa com quantas calorias tem o almoço, quanto tempo e o que vai ser necessário fazer para queimar essas calorias…
- Acho que para mim também vai ser.
Faço sinal ao empregado e lá mando vir duas francezinhas e dois finos.
Entretanto começa a tocar o meu telemóvel. Por favor que não seja a Ana… E não é mesmo… É o Luís. É o míudo que está a dar os últimos retoques na versão do relatório final que a minha equipa tem de entregar.
- Boa tarde engº Ferreira. Desculpe mas estou aqui com um problemazinho…
Bolas!!! Lá vem a história do problemazinho outra vez… Se é um problemazinho porque é que ele me está ligar??? Que mania de reduzir estas coisas ao “inho” Ainda por cima deve ser um problema como o último… “Sr. Eng.º: Acabou o tinteiro… Não consigo imprimir…” O que é que eles acham querem que faça? Que vá substituir o tinteiro?
- Luís... é assim: estou a almoçar. Se é um problemazinho, deixe de se comportar como um funcionariozinho, faça o seu trabalhinho e se quando chegar o problema ainda estiver resolvido, trato de ver o que posso fazer.
- Desculpe Sr. Eng.º… Não sabia que estava ocupado, vou tentar então resolver isto sozinho…
Nem me apercebi da resposta que dei… À minha frente a Sofia sorri.
Peço-lhe desculpa e explico a história dos “problemazinhos” que os funcionários têm, de como insistem em telefonar-me por coisas sem importância e como estou farto de ser interrompido por causa disso, perdi um pouco a cabeça…
- Percebo totalmente. Tenho uma empresa de Design Gráfico. As pessoas às vezes não têm noção nenhuma da realidade… Acontece-me montes de vezes. Aqui há uns dias faltou a luz e telefonaram-me a perguntar o que deviam fazer…
É engraçado… Ela transmite uma segurança fantástica. Deixa-me totalmente à vontade…
Entretanto a conversa evolui de uma forma assombrosa… Começamos a entrar em pormenores absolutamente fantásticos para serem ditos a alguém que mal se conhece… Desde partilhar experiências de férias, situações embaraçosas que nos aconteceram, lembranças de infância, romances falhados… Enquanto isso vou pensando numa maneira subtil de lhe perguntar se tem um caso com alguém neste momento… Mas para que raio quero saber isso? Ando interessado na Ana. Não devia meter mais uma pessoa na equação… Iria complicar-me muito a vida…
Quando estou com a Sofia o tempo parece que voa… Já são duas e meia. Nunca estive tanto tempo neste restaurante num almoço de um dia trabalho… e no entanto queria ficar mais…
Peço a conta ao empregado.
Tiro a carteira e pago. Ela insiste que deve pagar o almoço dela.
- Nem penses. –digo – Fui eu que convidei e tenho agradecer-te o enorme favor que me fizeste…
- Ok. Mas não penses que isto fica assim… -retorque
Boa! Descobri como hei-de saber se anda com alguém…
- Hmmm. Então amanhã à noite pagas-me o café… Pode ser?
- Amanhã… quinta-feira… pode ser. Liga-me a combinar. – diz-me sorrindo.
Pergunto-lhe se quer que a deixe em algum lado mas ela veio na sua viatura.
Sinto-me incrivelmente leve. Este almoço deixou-me totalmente rejuvenescido. Nem parece que passei a noite em claro.
Mal chego ao escritório o Luís vem ter comigo e diz-me, sorridente, que conseguiu resolver o problema e que tenho a versão final do relatório na minha secretária à espera para eu o reler e dar o meu aval para entregar ao director.
Nem quero saber qual foi o problema que ele teve. Ainda bem que está acabado. Vou ler o relatório rapidamente, entregá-lo e hoje o meu dia vai acabar cedo.
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
Insónia ( III )
(continuação)
São 5h30. A esta hora já deve haver na Shell os jornais do dia. Dou um lá saltinho para comprar o Público e o Ojogo. Aproveito para passar por uma padaria e comprar algum pão. Hoje vou ter tempo para fazer um pequeno-almoço em condições!
As notícias são as do costume… acidente no IP5, medidas do governo criticadas pela oposição, escândalo com figura pública, especulações de transferências de jogadores… a noticia boa chega no fim… O bom tempo está para durar. Ainda tenho tempo para passear um bocadinho pela net, ver se tenho correio electrónico (para além das mensagens reencaminhadas acerca de um utilizador na Nicarágua que não ligou à mensagem, não a quis reencaminhar e quando saiu de casa foi atropelado por uma scooter que vinha em contra-mão, parte os dois braços, no regresso do hospital cai em cima de um ninho de térmitas e morre de comichão…) e ainda ver qual o telemóvel que iria comprar depois da reunião.
Entretanto são 8h30 e lá me ponho a caminho da Boavista para apresentar as normas de qualidade e segurança para o telemóvel (coincidências…) em que estou a trabalhar.
Finalmente chega a famigerada reunião me roubou a conversa tão boa que estava a ter na noite anterior! Com um certo espírito marroquino, lá apresento as normas de qualidade e segurança sempre demasiado exageradas para ter uma margem para negociar e ter sempre um produto com uma qualidade e segurança elevada. Hoje os chefões parecem estar com pressa… Não puseram nenhum entrave às minhas normas e passaram a apresentação à equipa de design. E lá vem o meu calvário outra vez… o Eng.º Torres… Dois minutos depois deste ter começado entra uma secretária dirige-se a mim e diz que está na sala de espera uma funcionária minha à espera com algo muito importante. Funcionária minha?... Todo o trabalho está praticamente concluído. O projecto está numa fase latente, à espera do visto desta reunião para poder ser passado para a versão final… Quem será?
Peço licença e saio. Intrigado, dirijo-me à sala de espera… É a Sofia! Na praia não tinha dado para perceber o charme que tinha. Corpo atlético, longos cabelos pretos e que olhos verdes! Cumprimento-a e encaminho-a ao meu escritório. Antes que fosse dizer a minha piada acerca do fato-saia que trazia vestido e da roupa que trazia vestida na praia diz-me:
- Quase não te conhecia de fato…
Pensou exactamente o mesmo que eu… Devo ter ficado com cara de carneiro mal morto porque logo de seguida reconforta-me.
- Não te preocupes. Não é uma critica… Ficas bem de fato! – observa sorrindo.
Esboço também um sorriso.
- Estava a pensar exactamente na mesma coisa!
- Como conseguiste encontrar-me? Fiquei com alguma coisa tua ontem? - pergunto-lhe.
- Não… Liguei à Luísa – secretária… Ontem deixaste o teu telemóvel na praia… Ainda gritei para não te ires embora mas disseste adeus e arrancaste logo. Tomei então a liberdade de pesquisar a agenda telefónica e lá encontrei a Luísa – secretária… Telefonei-lhe e ela disse-me que estavas aqui. Espero que não tenha interrompido nada de importante…
- Não te preocupes… Na realidade salvaste-me duplamente! Encontraste o meu brinquedo e pude sair da reunião enquanto decorre a parte a parte mais entediante. Infelizmente tenho de voltar para lá... – convenço-a então a deixar-me pagar-lhe o almoço. Peço-lhe o número para ligar quando acabar a reunião lhe telefonar a combinar o almoço.
Sorrindo diz:
- Isso foi outra coisa que fiz com o teu telemóvel… Tens aí o meu número memorizado em Sofia…
Nesse momento o telemóvel começa a tocar… Despedimo-nos e olho para ver quem ligava… É a Ana… Algo me leva a não atender o telefonema…
A Ana é uma mulher espectacular. Sócia de uma empresa de contabilidade é uma pessoa totalmente independente… Isso sempre me atraiu numa mulher… mas tem qualquer coisa que não percebo… É uma super carinhosa comigo, falamos montes de tempo ao telefone, almoçamos montes de vezes juntos (apesar de ser aquela situação de estar limitada por um horário restringido pelas horas do trabalho), mas quando chega a altura para fazer qualquer mais íntima nunca está disponível ou leva sempre consigo a sua “bengala”… Isso é mesmo coisa de adolescente… Lembro-me quando era puto que fazia isso… Para não correr o risco de um encontro se tornar demasiado chato ou constrangedor ambas as partes levavam sempre um casal amigo para tornar as coisas mais fáceis… Agora fazer isso com vinte e seis anos? Porra… já tem idade para ser mais segura… Bolas… Não sei ao certo o que ela quer…
Retorno à reunião… Quero telefonar à Sofia… Hoje parece que a reunião leva tempos infinitos a terminar…
- Parabéns meus senhores! Este projecto está muito bom. Enviem-me os documentos finais e quando a sede de Zurique der o seu aval positivo a produção do produto vai ser posta em marcha. – anuncia o chefe do projecto.
Peço à minha secretária para não me passar nenhum telefonema. Faço então o telefonema à Sofia e combinamos a almoço as 12h30 no Capa Negra na Boavista.
Sinto então um pouco de remorsos por não ter atendido o telefone à Ana e resolvo fazer-lhe uma chamada. Peço desculpa por não ter atendido o telemóvel e explico que estava numa reunião muito importante. Ela diz-me que precisa de falar comigo e pede-me para jantar com ela. Depois de me certificar que ela não lhe tinha acontecido nada de mau digo que vou marcar uma mesa num restaurante e que passo em sua casa às 19h30…
São 5h30. A esta hora já deve haver na Shell os jornais do dia. Dou um lá saltinho para comprar o Público e o Ojogo. Aproveito para passar por uma padaria e comprar algum pão. Hoje vou ter tempo para fazer um pequeno-almoço em condições!
As notícias são as do costume… acidente no IP5, medidas do governo criticadas pela oposição, escândalo com figura pública, especulações de transferências de jogadores… a noticia boa chega no fim… O bom tempo está para durar. Ainda tenho tempo para passear um bocadinho pela net, ver se tenho correio electrónico (para além das mensagens reencaminhadas acerca de um utilizador na Nicarágua que não ligou à mensagem, não a quis reencaminhar e quando saiu de casa foi atropelado por uma scooter que vinha em contra-mão, parte os dois braços, no regresso do hospital cai em cima de um ninho de térmitas e morre de comichão…) e ainda ver qual o telemóvel que iria comprar depois da reunião.
Entretanto são 8h30 e lá me ponho a caminho da Boavista para apresentar as normas de qualidade e segurança para o telemóvel (coincidências…) em que estou a trabalhar.
Finalmente chega a famigerada reunião me roubou a conversa tão boa que estava a ter na noite anterior! Com um certo espírito marroquino, lá apresento as normas de qualidade e segurança sempre demasiado exageradas para ter uma margem para negociar e ter sempre um produto com uma qualidade e segurança elevada. Hoje os chefões parecem estar com pressa… Não puseram nenhum entrave às minhas normas e passaram a apresentação à equipa de design. E lá vem o meu calvário outra vez… o Eng.º Torres… Dois minutos depois deste ter começado entra uma secretária dirige-se a mim e diz que está na sala de espera uma funcionária minha à espera com algo muito importante. Funcionária minha?... Todo o trabalho está praticamente concluído. O projecto está numa fase latente, à espera do visto desta reunião para poder ser passado para a versão final… Quem será?
Peço licença e saio. Intrigado, dirijo-me à sala de espera… É a Sofia! Na praia não tinha dado para perceber o charme que tinha. Corpo atlético, longos cabelos pretos e que olhos verdes! Cumprimento-a e encaminho-a ao meu escritório. Antes que fosse dizer a minha piada acerca do fato-saia que trazia vestido e da roupa que trazia vestida na praia diz-me:
- Quase não te conhecia de fato…
Pensou exactamente o mesmo que eu… Devo ter ficado com cara de carneiro mal morto porque logo de seguida reconforta-me.
- Não te preocupes. Não é uma critica… Ficas bem de fato! – observa sorrindo.
Esboço também um sorriso.
- Estava a pensar exactamente na mesma coisa!
- Como conseguiste encontrar-me? Fiquei com alguma coisa tua ontem? - pergunto-lhe.
- Não… Liguei à Luísa – secretária… Ontem deixaste o teu telemóvel na praia… Ainda gritei para não te ires embora mas disseste adeus e arrancaste logo. Tomei então a liberdade de pesquisar a agenda telefónica e lá encontrei a Luísa – secretária… Telefonei-lhe e ela disse-me que estavas aqui. Espero que não tenha interrompido nada de importante…
- Não te preocupes… Na realidade salvaste-me duplamente! Encontraste o meu brinquedo e pude sair da reunião enquanto decorre a parte a parte mais entediante. Infelizmente tenho de voltar para lá... – convenço-a então a deixar-me pagar-lhe o almoço. Peço-lhe o número para ligar quando acabar a reunião lhe telefonar a combinar o almoço.
Sorrindo diz:
- Isso foi outra coisa que fiz com o teu telemóvel… Tens aí o meu número memorizado em Sofia…
Nesse momento o telemóvel começa a tocar… Despedimo-nos e olho para ver quem ligava… É a Ana… Algo me leva a não atender o telefonema…
A Ana é uma mulher espectacular. Sócia de uma empresa de contabilidade é uma pessoa totalmente independente… Isso sempre me atraiu numa mulher… mas tem qualquer coisa que não percebo… É uma super carinhosa comigo, falamos montes de tempo ao telefone, almoçamos montes de vezes juntos (apesar de ser aquela situação de estar limitada por um horário restringido pelas horas do trabalho), mas quando chega a altura para fazer qualquer mais íntima nunca está disponível ou leva sempre consigo a sua “bengala”… Isso é mesmo coisa de adolescente… Lembro-me quando era puto que fazia isso… Para não correr o risco de um encontro se tornar demasiado chato ou constrangedor ambas as partes levavam sempre um casal amigo para tornar as coisas mais fáceis… Agora fazer isso com vinte e seis anos? Porra… já tem idade para ser mais segura… Bolas… Não sei ao certo o que ela quer…
Retorno à reunião… Quero telefonar à Sofia… Hoje parece que a reunião leva tempos infinitos a terminar…
- Parabéns meus senhores! Este projecto está muito bom. Enviem-me os documentos finais e quando a sede de Zurique der o seu aval positivo a produção do produto vai ser posta em marcha. – anuncia o chefe do projecto.
Peço à minha secretária para não me passar nenhum telefonema. Faço então o telefonema à Sofia e combinamos a almoço as 12h30 no Capa Negra na Boavista.
Sinto então um pouco de remorsos por não ter atendido o telefone à Ana e resolvo fazer-lhe uma chamada. Peço desculpa por não ter atendido o telemóvel e explico que estava numa reunião muito importante. Ela diz-me que precisa de falar comigo e pede-me para jantar com ela. Depois de me certificar que ela não lhe tinha acontecido nada de mau digo que vou marcar uma mesa num restaurante e que passo em sua casa às 19h30…
terça-feira, fevereiro 01, 2005
Insónia ( II )
(continuação)
No final solta uma gargalhada. Boa! Acertei em cheio… Dei a resposta errada!
─ Desculpe se me ri. Chamo-me Sofia. Muito prazer. Acho que temos sensivelmente a mesma idade. Podemos deixar-nos desta treta do você…
Com esta é que fiquei totalmente despistado… O que aconteceu? Depois daquela gargalhada deveria ter-se levanto, voltado costas e desaparecido na escuridão…
─ Muito prazer. O meu nome é Francisco… respondo ainda com ar alucinado.
─ Desculpa lá a risada… É que invades assim a MINHA praia e descreves exactamente o que me aconteceu… tirando a parte do carro. Moro uns bons metros mais para baixo e vim dar um passeio.
Desta vez rimos em uníssono.
Começamos então a conversar acerca de assuntos tão sérios e banais como o Tempo, viagens, entre outros, enquanto o Tejo vai-nos desafiando para lhe atirar mais uma vez o pau que incansavelmente nos devolve.
O tempo voa… Olho para o relógio. O ponteiro pequeno está entre as quatro e as cinco. Bolas! Amanhã, aliás, hoje é dia de trabalho…
─ Já viste as horas… Daqui a quatro horas e meia tenho de estar na Boavista para começar a trabalhar. Tenho de ir para casa.
Também ela fica meia atarantada. Nunca pensou que fosse tão tarde…
Despedimo-nos a correr. Ainda lhe pergunto se quer que a deixe em algum lado mas, graciosamente recusa e começa caminhar pela praia, presumivelmente em direcção a sua casa. Quando estou a chegar perto do carro grita-me qualquer coisa inaudível. Deve ter sido adeus ou algo do género. Grito também adeus e arranco…
Vagarosamente, o carro conduz-se até casa… Vou ter de ligar os despertadores que tiver em casa para não faltar à reunião… Começo pelo micro-hifi que tenho no quarto, para tentar acordar relaxadamente pela voz de Dianna Krall… Agora tenho de por o telemóvel a despertar dez minutos depois para o caso do aparelho sonoro “misteriosamente” se desligar… Hmmm… onde está o telemóvel… Procuro todos os bolsos e nada encontro… Será que o deixei no carro? O elevador demora uma eternidade a chegar à garagem… Procuro debaixo do banco, no porta-luvas e em todos os compartimentos do carro. Não aparece! Bolas!!! Provavelmente deve ter ficado na praia…
Perdi as minhas algemas e brinquedo preferido. Eu, que adoro a liberdade, como foi possível ter ficado tão dependente duma coisa destas… Quantas vezes já não me deu cabo de jantares e encontros íntimos quando toca e do outro lado ouve-se uma voz
“- Boa noite Sr. Eng.º. Desculpe estar a incomodá-lo a estas horas, mas temos um problemazinho…”
Apetece-me responder:
“- Ai sim? Então se é um problemazinho porque é que você não o resolve???”
Infelizmente lá tenho de abandonar o que estou a fazer e ajudar essas pessoas sem vida própria… Já para não falar da Clara – o meu último caso amoroso – Era impossível!!! Sempre que me atrasava um bocadinho lá vinha o telefonema: “- Onde estás? Não te esqueceste de mim, pois não?” Acontecia-lhe qualquer coisinha, tipo partir uma unha, lá vinha a mensagem escrita “Nem imaginas o que me aconteceu! Parti uma unha!” e se não respondia à mensagem quando estivesse com ela lá levava a reprimenda….
Se bem que também sabe bem ouvi-lo tocar em certas ocasiões e do outro lado ouvir uma voz que me é querida. Lembro-me da última reunião que tive com os restantes coordenadores de equipas. Que nome pomposo tem este meu trabalho… é melhor explicar o que faço… a empresa onde trabalho, realiza projectos de concepção de novos produtos electrónicos. Para tal, existem várias equipas responsáveis por diversos passos que devem ser realizados até que o produto seja concluído, como a equipa de design, a equipa que faz o estudo de mercado, etc. Eu estou responsável pela equipa que define as normas de qualidade e segurança desse produto. Voltando então à última reunião que tive… Estava então reunido com os restantes coordenadores, e o do design lá apresentava diversos protótipos de como se iria apresentar o novo leitor de DVD portátil. Coitado do homem… Até é boa pessoa mas ouvi-lo a falar é uma seca!!! Parece que alguém sabia o que estava a acontecer. No bolso senti o telemóvel a vibrar. Era a Ana. Pedi desculpa e saí com a desculpa que os meus coordenandos estavam com um problema importantíssimo. Demos dois dedos de conversa, combinamos almoçar e quando voltei já o Eng.º Torres tinha acabado a sua exposição e no final ainda fui felicitado pelo chefe do projecto por ser uma pessoa dinâmica e empenhada em resolver os problemas da minha área.
Outra das coisas que sabe bem neste brinquedo, mesmo que montes de pessoas achem que é falta de imaginação, vulgar ou “pimba” é receber uma daquelas mensagens escritas tipo:
“Cada vez que me despeço de ti, um pedaço de mim fica contigo. E hoje, acho que foi o meu coração. Adoro-te”. Deixa-me sempre com um sorriso nos lábios e mais bem disposto para o resto do dia.
Acho que hoje já não durmo. Vou de directa para a reunião. Provavelmente é melhor que assim seja. Sempre que durmo apenas algumas horas no dia, fico sempre mal disposto…
No final solta uma gargalhada. Boa! Acertei em cheio… Dei a resposta errada!
─ Desculpe se me ri. Chamo-me Sofia. Muito prazer. Acho que temos sensivelmente a mesma idade. Podemos deixar-nos desta treta do você…
Com esta é que fiquei totalmente despistado… O que aconteceu? Depois daquela gargalhada deveria ter-se levanto, voltado costas e desaparecido na escuridão…
─ Muito prazer. O meu nome é Francisco… respondo ainda com ar alucinado.
─ Desculpa lá a risada… É que invades assim a MINHA praia e descreves exactamente o que me aconteceu… tirando a parte do carro. Moro uns bons metros mais para baixo e vim dar um passeio.
Desta vez rimos em uníssono.
Começamos então a conversar acerca de assuntos tão sérios e banais como o Tempo, viagens, entre outros, enquanto o Tejo vai-nos desafiando para lhe atirar mais uma vez o pau que incansavelmente nos devolve.
O tempo voa… Olho para o relógio. O ponteiro pequeno está entre as quatro e as cinco. Bolas! Amanhã, aliás, hoje é dia de trabalho…
─ Já viste as horas… Daqui a quatro horas e meia tenho de estar na Boavista para começar a trabalhar. Tenho de ir para casa.
Também ela fica meia atarantada. Nunca pensou que fosse tão tarde…
Despedimo-nos a correr. Ainda lhe pergunto se quer que a deixe em algum lado mas, graciosamente recusa e começa caminhar pela praia, presumivelmente em direcção a sua casa. Quando estou a chegar perto do carro grita-me qualquer coisa inaudível. Deve ter sido adeus ou algo do género. Grito também adeus e arranco…
Vagarosamente, o carro conduz-se até casa… Vou ter de ligar os despertadores que tiver em casa para não faltar à reunião… Começo pelo micro-hifi que tenho no quarto, para tentar acordar relaxadamente pela voz de Dianna Krall… Agora tenho de por o telemóvel a despertar dez minutos depois para o caso do aparelho sonoro “misteriosamente” se desligar… Hmmm… onde está o telemóvel… Procuro todos os bolsos e nada encontro… Será que o deixei no carro? O elevador demora uma eternidade a chegar à garagem… Procuro debaixo do banco, no porta-luvas e em todos os compartimentos do carro. Não aparece! Bolas!!! Provavelmente deve ter ficado na praia…
Perdi as minhas algemas e brinquedo preferido. Eu, que adoro a liberdade, como foi possível ter ficado tão dependente duma coisa destas… Quantas vezes já não me deu cabo de jantares e encontros íntimos quando toca e do outro lado ouve-se uma voz
“- Boa noite Sr. Eng.º. Desculpe estar a incomodá-lo a estas horas, mas temos um problemazinho…”
Apetece-me responder:
“- Ai sim? Então se é um problemazinho porque é que você não o resolve???”
Infelizmente lá tenho de abandonar o que estou a fazer e ajudar essas pessoas sem vida própria… Já para não falar da Clara – o meu último caso amoroso – Era impossível!!! Sempre que me atrasava um bocadinho lá vinha o telefonema: “- Onde estás? Não te esqueceste de mim, pois não?” Acontecia-lhe qualquer coisinha, tipo partir uma unha, lá vinha a mensagem escrita “Nem imaginas o que me aconteceu! Parti uma unha!” e se não respondia à mensagem quando estivesse com ela lá levava a reprimenda….
Se bem que também sabe bem ouvi-lo tocar em certas ocasiões e do outro lado ouvir uma voz que me é querida. Lembro-me da última reunião que tive com os restantes coordenadores de equipas. Que nome pomposo tem este meu trabalho… é melhor explicar o que faço… a empresa onde trabalho, realiza projectos de concepção de novos produtos electrónicos. Para tal, existem várias equipas responsáveis por diversos passos que devem ser realizados até que o produto seja concluído, como a equipa de design, a equipa que faz o estudo de mercado, etc. Eu estou responsável pela equipa que define as normas de qualidade e segurança desse produto. Voltando então à última reunião que tive… Estava então reunido com os restantes coordenadores, e o do design lá apresentava diversos protótipos de como se iria apresentar o novo leitor de DVD portátil. Coitado do homem… Até é boa pessoa mas ouvi-lo a falar é uma seca!!! Parece que alguém sabia o que estava a acontecer. No bolso senti o telemóvel a vibrar. Era a Ana. Pedi desculpa e saí com a desculpa que os meus coordenandos estavam com um problema importantíssimo. Demos dois dedos de conversa, combinamos almoçar e quando voltei já o Eng.º Torres tinha acabado a sua exposição e no final ainda fui felicitado pelo chefe do projecto por ser uma pessoa dinâmica e empenhada em resolver os problemas da minha área.
Outra das coisas que sabe bem neste brinquedo, mesmo que montes de pessoas achem que é falta de imaginação, vulgar ou “pimba” é receber uma daquelas mensagens escritas tipo:
“Cada vez que me despeço de ti, um pedaço de mim fica contigo. E hoje, acho que foi o meu coração. Adoro-te”. Deixa-me sempre com um sorriso nos lábios e mais bem disposto para o resto do dia.
Acho que hoje já não durmo. Vou de directa para a reunião. Provavelmente é melhor que assim seja. Sempre que durmo apenas algumas horas no dia, fico sempre mal disposto…
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