Devaneios... Nada mais...

segunda-feira, setembro 18, 2006

Página de um diário esquecido

Faz precisamente hoje um mês que resolvi rapar a barba e o cabelo. Não mais esquecerei esse dia. Ainda te lembras? Ainda me lembro? Basta folhear algumas páginas para que tudo faça "sentido". Todos os anos havia aquele ritual, não interessa se era por um fim de semana, por uma semana, por quinze dias ou mesmo por um mês. Todos os anos a malta reunia-se e assim que os dias eram mais longos que a noite alguém dava o toque a reunir a malta e lá se alugava o casebre do costume e os seis do costume lá se encontravam. Nunca eramos seis. Havia sempre "intrusos". Todos os anos havia sempre alguém novo. Esses dias eram sagrados. Eram o elo que ligava os tempos loucos da adolescência e juventude às preocupações e stresses da vida adulta. Confesso que houve anos em que fui algo contrariado, aliás todos devem ter experimentado o mesmo sentimento, no entanto assim que passavam os cinco primeiros minutos naquela casa tudo se compunha e o bom humor imperava... Era uma casa mística... O portal principal escondia um carreiro que serpenteva entre os jardins cerca de cinquenta metros até que terminava num largo estacionamento mesmo em frente à porta principal da casa. No piso térreo apenas havia uma cozinha algo tacanha e uma ampla sala com umas portadas a todo o comprimento que davam para as traseiras. E aqui residia a maior parte do encanto daquele lugar: naquelas traseiras aparecia um amplo jardim relvado salpicado com umas quantas árvores e arbustos. No final, uma falésia onde se via o rio a nascer entre uns quantos calhaus e a crescer pelas verdejantes margens. Este ano o elemento estranho foi Graciosa...Quando me disseram que ia não gostei... apesar de não a conhecer... não gosto do nome... Formei logo na altura uma opinião que estaria bem longe da realidade. A realidade é que quando ela entrou nessa casa à coisa de três meses não consegui tirar os olhos dela. Estava completamente hipnotizado. Ainda hoje tento explicar tal comportamento tão primitivo. Eu não sou assim. Acima de tudo a racionalidade! Era amiga da Rita. Depois das apresentações feitas não mais paramos o conhecimento nesse dia. Aliás, o dia
terminou no dia seguinte na confeitaria da esquina enquanto os restantes seis dormiam profundamente. Foi uma semana inesquecivel! Se houvesse um eu feminino seria aquele ser. Combinamos às escondidas que dentro de quinze dias voltariamos aquela casa. Como custaram passar esses quinze dias... Quando finalmente terminaram, corri para lá. Havia sido primeiro a chegar... O tempo passava... e Graciosa teimava em não chegar... Deitado no sofá da sala espreitva para o jardim, iluminado pela lua. Só eu tinha as chaves da porta principal. O usual era entrar por estas portadas. De quando em quando lá me levantava espreitava pelas portadas entreabertas. Adormeci... e acordei... de um sonho ou para a vida... Não sei... Peguei na máquina e rapei o cabelo. A lâmina encarregou-se da barba. Fechei tudo e voltei à confusão da cidade. Era uma confusão mais suportável! E agora cá estou eu... De novo de volta a esta casa. Junto à falésia a ver o rio nascer... Graciosa já não tinha graça! Era apenas ociosa! Já não se morre por amor! Nem sequer está na moda!

2 comentários:

Nandinho Jr. disse...

Não sei se continuas a insistir que as histórias que tu tão bem nos contas são pura ficção, o que me deixa algumas suspeitas. Em qualquer dos casos, fantástica! Welcome back!!

ana do ar disse...

muito bom mesmo. Grande trocadilho com o Graciosa, graça e ociosa. heheh, fantastico primito!

(tava com saudades do conversas pá!)